terça-feira, 10 de julho de 2007

Ir mais além...

O ser humano é por natureza própria insatisfeito. Esta é uma singela conclusão que há muito partilho. Continuamente procuramos a busca da perfeição - no trabalho ou no lazer, queremos dar mais - de nós aos outros, queremos ir mais longe - mais fortes, mais audazes, suplantar-mo-nos a nós próprios naquilo que consideramos os nossos limites. Dai que "Ir mais além..." resume em 3 palavras simples a nossa participação no 2.º Raid AC - Trilhos e Aventuras - Uma visita à Gardunha.

Já mais vezes afirmei aqui que não procuramos tornar-nos nuns ases do pedal devoradores de km (eu prefiro devorar umas sandes hipercalóricas como as que o RARN levou). Desfrutar de toda a plenitude que praticar BTT proporciona é claramente o nosso objectivo. Ao participarmos neste Raid proposto pelo amigo AC, fizemo-lo, não para contar na mesa do café que fizemos 100 km em x horas (também vamos contar!...), mas sim, que fomos à Gardunha acompanhados por bons amigos, que vimos (e registamos!) paisagens deslumbrantes e que passamos um dia espectacular (e bem quente!) a pedalar! Esta sim, é uma aventura engraçada para contarmos aos nossos netos daqui a uns anitos, sentados á modorra da lareira, a folhear o album de fotografias lá de casa. Imaginemos então que estamos no ano de 2049, os oitenta anos de idade já cá cantam (eu sou o avô), estou sentadinho na minha cadeira de repouso com as pantufas nos pés, e rodeado de petizes ávidos por novas histórias (os petizes são vocês, os leitores deste blog). Começo então a história desta aventura...

"Há muitos, muitos anos, num dia quente e poeirento de Julho, juntamo-nos 9 rapazes do meu tempo, para irmos pedalar até à Gardunha. 5 deles conseguiram fazer o percurso todo - Para além de mim, foi o amigo AC, que nunca se negava a uma voltinha de bicla acompanhada de dois dedos de conversa e tinha um GPS e tudo para nos guiar nos trilhos. Outro amigo era o Agnelo, que conseguia "voar" baixinho pelas descidas abaixo na sua bicicleta. Outro amigo era o RARN, apreciador de banhos nas fontes e de sandes de ovo com fiambre. Foi também o João Valente, meu colega de trabalho e de andanças de bicla, reconhecido por ser um devorador inveterado de maçãs. Os outros 4 amigos - Dino, Álvaro, Ricardo e Cabarrão, regressaram mais cedo a casa por força de terem de ir trabalhar. Lá mesmo em cima e até á Soalheira tivemos ainda a companhia do amigo Rui e do seu sobrinho, rapaziada daquelas bandas que conhecia bem aqueles penedos.

As bicicletas desse tempo não tinham motor pelo que ir até aquela serra a pedalar era uma estopada valente que demorava muito tempo, pelo que tinhamos que ir carregados de deliciosas sandes, camelbags cheios de água e tinhamos que rezar para encontrarmos um café com bjecas bem fresquinhas para nos animarem a alma! Tinhamos também de ter pernas para fazer aquele caminho todo, e essas, graças a Deus, não se negaram.

Saimos do Pires Marques direitinhos ao frigorífico, uma portagem virtual, ali para os lados da Feiteira. Depois de molharmos ai os pezinhos, seguimos pela Tapada das Figueiras, zona de Valverde, direitinhos ao Santuário da S. Encarnação, ali prós lados da Póvoa, onde algumas subidinhas começaram a fazer-nos transpirar. Mais á frente, nuns estradões sobranceiros á barragem de Sta Águeda e tendo por fundo a Gardunha, que se ia aproximando cada vez mais, começamos a disparar as nossas digitais a torto e a direito e foi onde comemos as primeiras barritas e as algumas sandochas que o estomago já reclamava. Avançamos então em direcção á primeira subida a sério, a do Casal da Serra.

Ladeada por muitos pinheiros que emanavam um aroma bem agradável começamos então a subir, pouco a pouco, conforme as nossas pernas deixavam, começando a paisagem cada vez mais imensa a tomar conta dos nossos sentidos. Lá estava a barragem da Marateca bem azulinha ali na nossa frente e toda uma imensidão de terra que se perdia no horizonte, a fazer-nos lembrar que somos bem pequeninos. Chegados lá acima, entramos então no Casal da Serra e ai fomos direitinhos á famosa bica onde pudemos beber água bem fresquinha e alguns até "tomar" banho, tal era a força que a água às vezes trazia. Contudo ainda só metade da subida estava feita.

A outra metade era igualmente exigente. Já quase sem sombras, o sol a apertar cada vez mais e com um piso algo irregular, lá fomos subindo em direcção ao Miradouro, já lá bem perto do cume. E aí, sim sentimo-nos como se tivessemos chegado ao tecto do mundo. Uma paisagem imensa entrava-nos pela retina fazendo-nos esquecer o cansaço, a sede ou a fome, fazendo-nos pensar e reflectir que poder superior, que espirito imenso poderia ter criado tamanha obra natural, tal era a beleza que podiamos observar. Por cima de nós o azul do céu, parecia mais próximo, como se pudessemos lá tocar... atrás de nós as Antenas da Gardunha e as penedias que as rodeavam, faziam lembrar gigantes adormecidos... aos nossos pés e bem pequeninas apareciam as aldeias de Castelo Novo e Casal da Serra... lá longe circulavam carros que mais pareciam formigas, ao longo da A23... num azul brilhante que espelhava o sol do meio dia estava a barragem em todo o seu esplendor... e até onde alcançava aa nossa vista, estava a linha do horizonte, tal qual uma fronteira onde parecia que acabava o mundo! Que espectáculo era podermos estar ali, como se fossemos umas águias nos seus ninhos a prescutar o horizonte, tal qual reis e donos dos céus...


Estava na hora de abalarmos. Com um misto de satisfação e de dever cumprido rumamos então a Castelo Novo, por umas descidas bem vertiginosas e ate técnicas, com destino a outra bica bem cheia de água fresquinha. Contudo o corpo começava a reclamar. Estava na hora de umas bjecas e uma sandocha para desenchovalhar o estomago. Como o único café da terra estava fechado, lá tivemos que fazer um esforço adicional e rumar até á Soalheira, onde no bar dos Bombeiros pudemos então beber uma fresquinha, dar dois dedos de conversa á malta lá da terra e despedirmo-nos do Rui e sobrinho que foram a casa almoçar, enquanto nós encetavamos o caminho de regresso, pela Lardosa, Alcains, Sta Apolónia, Pedra da Légua até ao frigorifico, entrando em Castelo Branco já bem perto das 16 horas, cansados, cobertos de pó e suor é certo, mas com a alma cheia da beleza natural que esta nossa bela terra connosco partilha."

E foi assim meus "queridos netos", que se passou mais uma aventura BTTHAL. Bem... mais uma não...esta foi sem dúvida a maior aventura BTTHAL que já aqui partilhamos! Uma experiência que contamos repetir, se possivel na companhia de mais alguns de nós btthalistas, mas com a certeza de que, como o amigo João diz, "não é preciso andarmos muitos quilómetros para sentirmos esta paixão que é andar de bicicleta pelo meio da natureza".

Fiquem bem e até á próxima aventura!

A Redacção/Fotógrafo:

FMike / João Valente

Mais detalhes em: http://ac-trilhoseaventuras.blogspot.com/



3 comentários:

FMicaelo disse...

Pelo JValente:

Meus Amigos…eu estive lá…e posso dizer-vos que foi lindo…..duro é verdade…mas sobretudo lindo!

João Valente

FMicaelo disse...

Pelo Agnelo Quelhas:

É verdade que a volta teve alguma dureza, mas eu sou da opinião que devagar tudo se faz. E como dizia ao Roberto, para ver o que vimos e viver o que vivemos temos que nos aventurar um pouco mais, esforçar-nos um pouco mais, e no final a natureza presenteia-nos com paisagens e locais onde muito pouco andaram. Parabéns ao Cabaço pela capacidade de inovação e escolha nos trilhos, parabéns a que se aventurou pela primeira vez nas andanças de longa distância. Afinal foram cerca de 100 Kms com quase 1500m de acumulado, um valor considerável.

Venha a próxima e, como o não pode ser sempre o Cabaço a arcar com as responsabilidades eu ofereço-me para arranjar uma “voltinha” destas na Reserva Natural da Serra da Malcata, talvez ligando Foios a Monsanto, uns 65 a 70 kms. Temos é que arranjar um “ambrósio” para trazer o carro de Foios para Monsanto.

Abraços a todos e obrigado pela companhia…

AQ

FMicaelo disse...

O relato aqui feito demonstra bem o prazer que foi participar nesta aventura. Como o João diz – foi lindo… sobretudo lindo… e uma experiência a repetir sem dúvida alguma. Também subscrevo o Roberto – para vermos e vivermos mais… temos que nos aventurar sempre mais um pouco… ou a vida não fosse uma aventura constante! E o prémio final, ver a Natureza no seu esplendor, vale bem a pena! Venha a próxima! E venham mais companheiros e amigos!
FM