quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Fátima - Caminho do Tejo: Dia 1

"A decisão de fazer o Caminho é como uma semente... se tiver as condições necessárias, pode germinar!"


Para tudo há um tempo na vida... tempo para rir... tempo para chorar! Tempo para divertir... tempo para trabalhar! Tempo para descansar... tempo para caminhar! E claro, alguma vez na nossa vivência terrena encontramos o tempo certo para fazer o "nosso" Caminho!


Há uma ano atrás, com um bom grupo de amigos, "caminhamos" até Santiago pelos caminhos milenares da fé.... desde há alguns anos para cá tenho "caminhado" para Fátima em asfalto, igualmente com bons amigos e familiares, em busca daquela paz interior que ali se obtém... Não nos movem promessas sobre-humanas ou excessivas crenças religiosas. Esse tipo de movimentação ultrapassa-me enquanto ser humano! Mas tenho Fé. A vida é demasiado complexa e intensa para se limitar a um simples apagão cardíaco... tem mesmo que haver um pouco mais além, um pouco mais espiritual!


Assim, enquanto não fazemos esse derradeiro caminho, há que aproveitar a Vida, toda a sua intensidade que nos pode dar e encontrar o nosso caminho rumo a essa paz espiritual. Nas condições certas a "tal semente" pode "germinar" e o tal Caminho surgir como uma boa oportunidade para reflectirmos sobre a nossa vida!


Há já algum tempo que andava por aqui o "bichinho das aventuras" a "picarmo-nos" para alinharmos em mais alguma "maluqueira". Contudo o tempo livre nem sempre chega para o que queremos e igualmente os tempos "deseconómicos" que correm aconselham alguma moderação nos gastos. Fiquemo-nos por aventuras mais modestas pois estas na sua "dose e medida certa" também são apeteciveis e desejadas! Haverá mais algumas na calha, assim apareçam as tais oportunidades livres e sustentadas para as realizar!


O Caminho do Tejo era uma dessas aventuras a aguardar oportunidade. Mas não havia meio, sobretudo agora que eu e o João Valente ficamos em equipas de trabalho distintas. Portanto irmos "aventurar-nos a algum lado" exige agora mais dificuldades. Como tinhamos férias - um a  terminar e outro a começar na semana de 26 a 30 de Setembro, logo ali se arranjou um "caldinho" para os dias 28 e 29. Teria de ser aqui ou já não seria este ano, pelo menos com nós os dois presentes, enquanto equipa BTTHAL! O repto para nos acompanharem foi aqui lançado em tempo útil e ainda houve dois bons amigos com vontade de alinhar, mas tal como nós, nem sempre se tem tempo livre ou oportunidade para aquilo que queremos realizar. Fica para a próxima amigos, nem que a gente vos acompanhe quando chegar a vossa vez de fazer o Caminho!


Previamente preparamos o que havia a preparar... no plano material as nossas bikes, as credenciais de peregrinos, o transporte em comboio até Lisboa e acima de tudo a nossa mochila para dois dias plenos de vida. Em questão de peregrinações, dizem os nossos Amigos dos Caminhos de Fátima, que levamos ás costas a nossa Vida! Se demasiado cheia a nossa mochila pode dificultar-nos a "caminhada"... se demasiado vazia podemos ter dificuldades pela falta de algumas coisas! Pelo que até aqui, começa verdadeiramente a nossa caminhada - encontrar o verdadeiro equilibrio entre as nossas necessidades e as nossas capacidades! Temos uma mochila chamada "Vida" para levarmos ás costas até Fátima!


Se no plano material estavamos preparados, em termos espirituais também. Independentemente dos "escolhos" que o Caminho pudesse ter, iamos "preparados" para os aceitar, plenos de satisfação para ultrapassarmos as eventuais adversidades. E o dia em que iriamos começar o "nosso" Caminho chegou. Com a nossa "vida" ás costas lá fomos!


O dia começou de noite, numa noite em que o espirito importonou o sono a pontos de dar conta das horas todas. E quando o relogio tocou ás 5 da matina, há muito que estava "pronto" para "embarcar". O comboio regional até Lisboa partia antes das 6 h pelo que rapidamente enfiei a mochila nas costas, peguei na bicicleta e rumei á estação. As Docas aquela hora eram um sossego.... estranho!


Os comboios já não são que eram! Eheheheh Todos modernos, confortáveis, com A/C e um sitio dedicado para pôr as nossas bikes! Até estranhei! E mais. Partiu a horas e chegou a horas! ESSSPPPECCCTÁÁCCULLLOOO!


Depois de uma viagem calma onde pudemos por a conversa bem em dia, chegamos a Lisboa pelas 9:30h e rumamos logo ao Marco que marca o inicio do Caminho do Tejo, ali bem junto ao Oceanário, em pleno Parque das Nações. Feitas as honras fotográficas, demos então inicio pelas 10 horas ao Caminho do Tejo by BTTHAL.


Os primeiros quilómetros são eminenentemente urbanos e suburbanos, primeiro em toda a longitude do Parque das Nações, sempre com o Tejo ali ao lado e depois em direcção a Sacavém onde entramos nos trilhos de terra e nas margens "malcheirosas" do Trancão, logo ali ao lado com duas geocaches para cacharmos.


Nesta zona, o Caminho do Tejo pupula entre os trilhos rolantes e alguns troços de alcatrão pois são inúmeras as localidades visitadas ou que contornamos pelas suas imediações - Bobadela, Vale Figueira, Granja e a "enorme" Vialonga, cheia de prédios e indústrias, ali com a autoestrada mesmo ao lado! Contudo, por ali,  a recolha de carimbos para as nossas credenciais não é fácil... ou desconhecem ou não têm carimbo ou como no caso das igrejas, estão fechadas!


Mas lá fomos conseguindo aqui e ali o almejado "troféu", alguns dos quais com direito a meia dúzia de minutos de conversa franca e boa disposição como foi no caso do Sr. Luis Mota, dono da casa de pneus ali para os lados do Forte da Casa!


Seguiram-se as localidades de Alverca onde o rigor militar do Depósito de Material da Força Aérea fez-nos pausar por alguns longos minutos à espera de ordem superior para recebermos um carimbo (!) e o Sobralinho, onde os singles fizeram as nossas delicias antes de entrarmos em Alhandra.


Alhandra, que só nos faz pensar em cimento da Cimpor, é uma terra que também tem os seus encantos e recantos bem bonitos, sobretudo naquela margem de rio onde inumeros barcos repousam e é possivel fazer um bonito passeio! Aqui também foi fácil carimbar!


Vila Franca de Xira (km 32) é logo ali ao lado e para lá chegarmos, percorremos uma boa ciclo-pedestre via, sempre com um contacto previligiado com o Tejo... bonitas vistas, bonitos kms! E mais...tem uma Casa do Benfica com carimbo disponivel! Nesta terra de toiros e gentes afáveis aproveitamos ainda para vitaminamos o corpinho numa churrasqueria local, onde uma boa sopa e uma alentejana taparam o buraco no estomago que já começava a incomodar!



Com o "fatinho" composto era tempo de entramos na Leziria Ribatejana, sem antes fazermos mais alguns quilómetros entre vilas e aldeias como o são Povos, Castanheira do Ribatejo, Vala do Carregado e Vila Nova da Rainha, sempre com a sinalética do Caminho cada vez mais presente a ajudar na "navegação das tropas".


A Azambuja (km 52) com a travessia da sua estação da CP ditou mais uma geocachada e a definitiva saída dos trilhos suburbanos, para nos mostrar toda a extensão e imponência da Leziria com os seus estradões paralelos ao Tejo, as longas (e cheirosas) plantações de tomate e os diques, os últimos protectores das casas em tempos de cheia.



Nas zonas de Reguengo, Valada, Casal Fidalgo entramos, por assim dizer, num certo "marasmo". Não me entendam mal, não teve nada a ver com cansaço ou calor, mas sim com a morfolgia do trilho, estradões por quilómetros intermináveis, que sinceramente não são bem para o meu feitio... Que saudades de uma boa "trepadela" à Estrela! Ainda cheguei a pensar que o meu Garmin tivesse o altímetro avariado, pois ia sempre com os mesmos metros de desnivel!
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Mas nem tudo é mau. Onde não esperavamos, encontramos dois grupos de peregrinos, os primeiros 5 de Madrid e os segundos 3 de Barcelona que se encontravam a fazer o Caminho de Santiago, desde Lisboa a pé! E um deles estava a fazer o "Camino" pela 13ª vez! Que espirito de peregrino, pleno de boa disposição! Valeu bem a "metidela" de conversa!


A seguir a Morgado e Casal Girassol, começou ao longe, a desenhar-se o perfil da única "verdadeira" subida do dia, a isolada colina onde Santarém brilhava á luz da tarde... e para onde tinhamso de trepar! Ahhh... tão bom... subidas! Eeheheh


Santarém (km 90) ditou para nós o fim da primeira etapa do Caminho do Tejo, aprimorada com uma boa pedalada até ao centro da cidade, onde registamos a fotografia de grupo que finalizou este dia, claro ainda acompanhado por mais um caixotinho bem no centro, onde nos proporcionou mais um encontro com um geocacher de alguma idade - o Airuc (Curia), que provou que isto é um desporto dos 8 aos 80 anos! Ehehehehe...
  

Seguiu-se uma "loirinha" para cada um no Moinho da Fau, uma bonita esplanada num moinho recuperado, ali mesmo lado a lado com o Santarém Hotel, onde tinhamos a pernoita planeada e claro um prometido e reconfortante banhinho na piscina em final de tarde que soube a gingas!


Dou por findo este já longo post, da mesma maneira que começei. No tempo certo a "semente" da decisão de fazer o Caminho "germina e dá frutos"! É nesses caminhos da fé que muitas das vezes reencontramos ou fortalecemos sentimentos como a amizade, companheirismo, introspeção, apoio, boa disposição, bons momentos, convivio e sei lá mais o quê. Foi "apenas e só" uma etapa, foram só 90 km, foi só uma aventura modesta, mas para mim foi sobretudo e "apenas" mais uma pequena "conquista", mais um belo momento de prazer com as nossas "amadas" bikes, mais um período de "reflexão sobre a vida", mais um "reencontro com o nosso eu" e o mundo que nos rodeia! E no fim sentimo-nos mais e melhores pessoas! Assim o registo!

Aguardemos com serenidade a publicação do post da segunda etapa e sua conclusão!

Um vosso amigo
FMike :-)
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Caminho do Tejo - Dia 1

1 comentário:

Paulo Alves disse...

Bem hajam por partilharem este relato tão delicioso.
Tive pena do calendário não ser favorável. Ainda tenho na minha memória aqueles 4 dias excepcionais.

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