quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Por Terras do Demo >Dia 2 - 9ª Etapa

Boas a todos

A noite foi curta, pois pelas 05:30 a modesta residencial que nos deu abrigo para a pernoita, agitou-se com o nosso alvoroço para regressarmos aos Caminhos de Santiago. Ali ao lado, uma "imponente" discoteca "bombava" música cá para fora, mas nem isso foi impeditivo de um merecido descanso. Enquanto nós acordavamos para recomeçar o dia, a noite ainda era uma criança para os apreciadores destes espaços noturnos. Um "camone" aquela hora matutina, bem "encharcado em molho" perguntou-nos pela discoteca, ali com ela mesmo ao lado que nem a via.... tal era a "anestesia" que trazia!



 
Acordada a "Chila", a "bébé mochila" do Zé Manuel que dormiu no berço do nosso quarto (private joke) aprumamos-nos e aperaltamos-nos, para regressar a Moimenta para iniciarmos mais uma etapa. Já sabiamos que os 30 km de distância de Lamego reunia alguma dureza, mas nada que fizesse diminuir a expetativa dos caminheiros. Pelo contrário. Sabiamos que nos esperava mais uns quantos pares de caminhos, daqueles de encher o olho aos mais exigentes, com bonitos recantos deste Portugal profundo!



 
Ainda só com o lusco-fusco da madrugada, iniciamos o percurso por caminhos mais ou menos planos até á pacata aldeia de Beira Valente, iniciando-se ai uma das muitas subidas do dia que nos levou até Sarzedo. Ao longe os cumes agitavam-se com as eólicas. Nos nossos pés, passavam os kms de calçada romana, mostrando que estes são mesmo caminhos milenares. As macieiras continuavam a dominar a paisagem... raios parta tanta maçã! :-)!



 
A bonita aldeia de Sarzedo esconde alguns bonitos edificios e igrejas, em ruas estreitas e pedregosas, que aquela hora da manhã, ainda tinham pouca população fora das 4 paredes. Já fora da aldeia, eram as imponentes culturas que brilhavam ao sol nascente que começava a aquecer-nos o "lombo" depois do frio da madrugada!
 
  
 
 
Seguiram-se um bom par de caminhos, alguns um pouco "sujos" com mato e silvas, e quase sempre em pendente ascendente que nos levaram até Granja Nova. A entrada nesta localidade é feita pelos trilhos que ligam varias propriedades seculares e é bem composta por uma antigo fontanário, onde aproveitamos para uns desenhos e uma boa meia hora de conversa com os curiosos aldeões dali presentes. "Rapaziada" desejosa de saber quem nós eramos e o que fazíamos ali aquelas horas...



 
"Abancamos" para o pequeno almoço, na praça central, pois o corpinho ja pedia uns canecos, broa e uma cafezada. Ali ao lado, na bonita igreja, seguia a eucaristia de domingo, com o "tradicional" grupo de homens á porta do tasco a ver quem passava e a "coscuvilhar" a vida dos outros! ;-) O verdadeiro Portugal.



 
Com o vale do Távora já para trás, ao sairmos de Granja Nova entramos em descida para o vale do rio Varosa, num percurso lindissimo entre vinhas, pomares, castanheiros e singles fantásticos, que nos levaram a uma riquissima povoação em historia e cultura - Ucanha! Meus amigos, aqueles singles pedem bike! Óh se pedem!



 
À medida que nos aproximamos da povoação, cheia de casas tipicas, apercebemo-nos de uma imponente torre fortificada e uma ponte medieval que atravessa o Varosa, dominando toda a paisagem envolvente. Outrora esta era uma construção atribuida ao poderio do mosteiro cisterciense de Salzedas, que aqui cobrava portagem a quem passava na ponte... uma "A23 medieval" também portagada... velhas medidas, um  mesmo problema - dinheiro!



 
A partir daqui entramos na parte mais exigente do percurso, um verdadeiro "rompe-pernas", alternando  subidas de pendente acentuada, com descidas abruptas, alternando os caminhos entre os vales do rio Varosa e o vale do rio Balsemão. Contudo a paisagem é simplesmente de fantástica, bem emoldurada com imponentes solares, vinhas, pomares e inumeras aldeias e vilas, entre elas Gouviães, Eira Queimada e Várzea dos Abrunhais.



 
Já com o novo hospital de Lamego á vista, seguem-se duas "terriveis" subidas, com pendentes dos 10% para cima, que aquela hora, pejada de calor causaram algum cansaço à "rapaziada". Contudo, o tempo era de alegria, pois mesmo perante a adversidade, havia quem ainda trauteasse algumas musicas populares, a fazer lembrar que a melhor atitude perante a adversidade, é a alegria!



 
A entrada em Lamego é novamente em pendente ascendente, terminando nas imediações da Sé de Lamego, um riquíssimo património histórico que rivaliza com o Santuário da N. Sr.ª dos Remédios, que praticamente domina toda a paisagem da cidade. Uma cidade lindíssima que já não visitava há algum tempo. Contudo, com tantas obras a decorrer, é um "pandemónio" andar por ali! Tava a ver que para sair daquela cidade tinha de meter um "decreto papal"!



 
Depois de recuperadas as energias com um lauto almoço de feijão pequeno com atum e ovo, servido ali mesmo á sombra dos plátanos do jardim, paredes meias com a subida ao Santuário, foi tempo de despedidas e de regressar a casa e à realidade. Já o disse e torno a dizer... habituava-me facilmente a esta vidinha de peregrino!




Em Outubro há mais, com mais dois dias a ligar Lamego a Mesão Frio e Mesão Frio a Amarante, entrando na bonita bacia do Douro. Mas para lá chegar, esperam-nos as mais duras etapas de todo o caminho, com altimetrias em 30 km capazes de rivalizar com as subidas à Estrela em bike.




Ultreia - Bom Caminho

FMike :-)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Por Terras do Demo >Dia 1 - 8ª Etapa

Boas a todos!

Diz-se que por aquelas bandas não passou nem El-Rei nem Deus... apenas o Demónio! A verdade seja dita. Podem ser as Terras do Demo, mas são plenas de paisagens deslumbrantes, ideais para encher o olho a quem gosta de trilhos fantásticos, singles, cultura e património, sempre com boas e calorosas gentes.


Mais um fim de semana, passado de forma diferente, a caminhar rumo a Santiago. Mais uma vez tive a oportunidade de acompanhar a Confraria dos Caminhos, em mais uma jornada bietápica, desta vez pelas Terras do Demo. Há algum tempo atrás tínhamos cumprido as etapas Vila Cortês-Trancoso e Trancoso-Ponte do Abade. Desta vez esperava-nos Ponte do Abade-Sernancelhe-Moimenta e Moimenta-Lamego.


No sábado o dia começou cedo, muito cedo, com saída de CBranco pelas 04 da matina e 22 graus de temperatura. Iniciamos a caminhada na Ponte do Abade às 06:25h com uns singelos 7 graus. Terras do Demo até nos extremos de temperatura!!! Irra que tava frio para andar de manguinha curta! :-)


Nestes primeiros quilómetros iniciamos com uma subida harmoniosa até Sernancelhe, num percurso com alguns trechos comuns à Rota dos Castanheiros, um PR da zona. A paisagem apesar da hora matutina é simplesmente fantástica, pela imponência e número de castanheiros aqui presentes. Um dos exemplares media em termos de circunferência a "módica" quantia de 8 pessoas de braços abertos!


Lá longe, a vila de Sernancelhe brilhava ao nascer do sol. Quando lá chegamos rapidamente apaixonou os presentes, apreciadores, amadores de fotografia e sketch... Fantástica, cheia de recantos antigos. Há de tudo... inúmeras casas antigas, bem estimadas, uma austera e belíssima igreja românica do séc. XII, solares... Esta terra tem tudo para merecer uma futura e demorada visita! Como não podia deixar de ser, lá fizemos mais uma foto de grupo em boa animação!


Em plano descendente trilhamos alguns caminhos que aqui e ali começavam a mostrar uma forte tendência para a cultura da maçã, uma constante neste dois dias. Aproximamo-nos de Vila da Ponte, dominada pela colina da Nª Sr.ª das Necessidades, com o rio Távora ali aos seus pés. Uma bonita vila onde aproveitamos para degustar um lauto pequeno almoço, onde cada um partilhou as suas iguarias que trazia consigo desde CBranco, sempre bem regadas com alguns néctares vinícolas! Tudo isto com as margens do Távora aqui represado pela Barragem do Vilar, permitindo termos uma paisagem de rio, muito tranquila aquela hora


Repostas as energias continuamos agora novamente em pendente ascendente até bem perto da capela da Nª Sr.ª das Necessidades, iniciando nova descida até à EN 226, estrada que partilhamos alguns quilómetros, entrecortada com a paisagem da barragem do Vilar ali mesmo ao lado e as colinas cheias de eólicas a brilhar ao longe.



Ao longo destes quilómetros fomos sendo brindados com o imenso património destas aldeias e vilas, algumas com toponímia engraçada como o são os Prados de Cima e Prados de Baixo, Penso e A-dos-Barros. Em Prados de Baixo tivemos direito a tocar o sino e tudo!!! Consta que o povo não chegou a vir á rua ver quem eram os "arruaceiros"! :-)


Em Vila Rua, a Vivenda Coelho ali paredes meias com um pelourinho fantástico, fez as delicias dos presentes. Uma verdadeira casa portuguesa! Fotos e mais fotos! A partir de aqui abandonamos a EN226 e tornamos a entrar nos trilhos, agora em direção a Vide e Granja dos Oleiros, sempre com alguma pendente ascendente, que associada ao muito calor que se fazia sentir, começava a "abrasar-nos" a alma.... Terras do Demo!!!


O que vale é que por aqui nao faltam pontos de água, sejam eles de a´gua tipo "água" ou tipo "cevada". Umas e outras conseguiram arrefecer os "radiadores"! Mas a subida não ficava por aqui. Antes de Moimenta ainda passamos por Arcozelo da Torre e Arcozelo do Cabo, pacatas aldeias, separadas por vastas zonas de cultura da maçã, capazes de fazer as delicias dos mais exigentes. São mesmo terras do Demo, pois aquelas maçãs são mesmo uma tentação! Contudo, tal como no pecado original, tudo o que é demais também chateia... não me falem em maçãs nos proximos 2 meses!!!


A chegada a Moimenta fez-se perto das 14.30, com cerca de 28 km andados e perto de 500 m de acumulado. O calor era tanto que na primeira esplanada junto à biblioteca, abancamos e começamos a "despejar" "loirinhas" tais eram as securas da malta! Um percurso fisicamente exigente, mas perfeitamente caminhável e ciclável. Bonito! Eu recomendo!!!


Moimenta estava em festa, com a Expo Demo, direcionada para a promoção da maçã, o produto de eleição da região. Ora isto é sinónimo de festa! Ao mesmo tempo desenrolavam-se os preparativos para receber a TVI em mais um programa de domingo, daqueles de fazer agitar a "populaça". Isto acabou por ditar a nossa "recolha" numa residencial em Vila Rua, ali distante uns 8 km, o unico sitio livre para nos acolher nestes dias. Sem problemas. O espaço era calmo e agradável, com os seus donos a revelarem uma boa simpatia, apesar da modestia da casa. Acabamos por fazer aqui um almoço alancharado numa calma esplanada da residencial, seguido de descanso e conversa, sempre em boa  e animada algazarra.


À noite fomos espreitar Moimenta, aproveitando a boa animação nas tasquinhas da feira para degustar uma sopa da pedra, grelhados e "mines"! Ali ao lado, num palco improvisado, a boa musica de um grupo de concertinas, fez soltar os mais recatados, acompanhando o ritmo da música com palmas e batuque. Contudo, o dia seguinte iria começar ás  6h da matina, logo aconselhava descanso e recuperação, levando a malta a recolher-se ainda antes das 23 h. Lamego esperava por nós e ninguém queria chegar lá "remeloso"!!!



Em breve, reportagem da 9ª Etapa.

FMike :-)