quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Outono na Estrela 2011

O dia de hoje foi mais um daqueles que dá grandiosidade ao nosso desporto, às relações interpessoais deste grupo, foi mais uma página que se escreveu na nossa vivência...

Desde o esforço titânico do João Neves (ainda novo nestas andanças), à boa disposição geral, à manga curta do Silvério (na torre com 3°) aos banhos em modo nudismo na água gelada do Zêzere do João Afonso e do Marco, ao petisco no Café Ideal em Vale de Amoreira, tudo foi fantástico!

As fotos tiradas foram muitas, mas as melhores são as que nos ficam na memória e que só cada um visualiza e revisita de vez em quando. Saímos às 9:30, acabámos às 16:30. Pelo meio ficaram 70 km’s e 1800 metros de acumulado, paisagens grandiosas que nos fazem sentir pequenos, mas acima de tudo a cumplicidade de 18 pessoas que decidiram aventurar-se por um dos cenários mais agrestes e duros de portugal.”


Foram estas as palavaras sinceras do amigo Agnelo Quelhas… orgulhoso de ter partilhado com este grupo de pessoas, mais uma expriência memorável e enrriquecedora das nossas vidas desportistas! Mas… entremos em pormenores desde singular dia!


A vivência do Outono na Serra da Estrela está, à semelhança de outros eventos, a tornar-se numa das aventuras que todos os anos vamos repetindo. Felizmente integro-me no “restrito” lote de convidados e será sempre um prazer marcar presença nestes memoráveis encontros!


Apesar dos diversos “marca-desmarca” no calendário nas semanas que antecederam o “Outono da Estrela 2011” e da semana repleta de chuva que esteve, podemos mesmo dizer que tivemos uma sorte danada com o dia eleito! Um “dia de encomenda” dizem alguns… e na verdade São Pedro foi mesmo complacente com este animado grupo! Sol, luz e calor nas zonas mais baixas… que mais ingredientes poderíamos pedir??? Espectáculo!


Mesmo assim, à quem diga que as cores outonais não estavam no ponto ideal, fruto deste verão que se prolongou até muito recentemente! Para mim esteve brilhante e não me importaria de encontrar estas cores e este sol cada vez que pego na bicicleta! Eheheh…


Assim sendo, neste dia 6 de Novembro compareceu no Ponto de Encontro de Manteigas um grupo de 18 amigos do BTT, 14 de Castelo Branco, 1 da Covilhã, 2 da Guarda e 1 de Setúbal! Todos com o apetite guloso de desfrutar o BTT num dos cenários mais bonitos deste Portugal… o majestoso maciço da Serra da Estrela.


Depois dos preparativos iniciais, iniciámos o percurso delineado pelo Agnelo pelas 9:30, junto à ponte sobre o Rio Zêzere - Manteigas, onde o João Afonso se esforçou por agrupar o mini-pelotão e sacar uma primeira fotografia de grupo! Bem sucedido!


Daqui iniciámos em tom de aquecimento “forçado” a ascensão de São Gabriel até às imediações do Poço do Inferno! Uma zona que já tinha feito a pedal com o companheiro Fernando Micaelo aquando do percurso Geo-Raid Ultra-Estrela… vieram à minha memória momentos brutais vividos a dois! Hoje erámos muitos mais… um autêntico comboio por ali acima… já a absorvermos um pouco da sublime paisagem desta zona! Uma espectacular luz matinal a trespassar o aglomerado de folhas da mata! Muito bonito!


São cerca de 4 Km’s a fazer ver que estamos mesmo a pedalar em alta montanha! Lá em cima interceptámos a estrada alcatroada que nos levaria, por opção de todos, a uma visita ao Poço do Inferno (que não estava incluído no percurso delineado!), mas que valeu bem a pena! As chuvas dos dias anteriores fizeram engrossar fortemente aquela cascata! A força da água é brutal! E neste cenário é vê-la gemer por todos os cantos!


No Poço do Inferno, desfrutámos um pouco do cenário, aproveitou-se para comer algo e para tirar uma série de fotografias, entre as quais mais uma ao grupo do Outono da Estrela 2011.


Daqui, seguimos via asfalto (estradinha de montanha), em pendente ascendente até á cota dos 1300 metros. Esta zona, apesar de ser em subida é bem menos inclinada e mantém a vegetação típica da zona, faias, abetos, pinheiros e castanheiros… formando um conjunto de cores dignas das mais belas “florestas de cinema”! Pessoalmente não conhecia este troço do percurso e adorei!


Com cerca de 7,5Km percorridos e já um considerável desnível acumulado vencido, entrámos numa zona de onde já era possível avistar o abissal Vale Glaciar do Zêzere e toda a sua envolvente! Aqui, as zonas mais abertas em termos de vegetação deram lugar ao frio gélido da serra.


Cada km percorrido oferece-nos uma vista magnânima que nos faz sentir muito pequenos. “Imaginar os milénios necessários para que tal monumento natural se forme, faz reduzir a nossa existência a muito pouco, uma pequena partícula de pó num imenso deserto. Tudo neste cenário nos reduz e ao mesmo tempo nos enche a alma.”


A zona é tipicamente rolante a meia encosta, com 2 ou 3 paredes mais inclinadas a fazer lembrar que estamos na Serra da Estrela, mas com a calma e descontracção natural tudo é vencido sem percalços! Lá ao fundo avistamos os maciços dos Cântaros (Raso, Magro e Gordo), que mais lá para afrente iríamos vencer em subida íngreme. Ufffff!


Na zona da Nave de Santo António, o João Neves, albicastrense com o qual pedalei a 1ª vez, decidiu encurtar caminho até Manteigas e esperar pelo restante grupo para o repasto final! De salientar o esforço imenso que o João Neves fez para conseguir ascender até este ponto com o grupo! Na verdade, foi uma volta (ainda) exigente para alguém que tem poucos Km’s nas pernas! Mas… grão a grão…enche a galinha o papo!! João, esperamos por ti no Centro Cívico de Castelo Branco para ganhar mais algum endurance… sem desistências!


A aventura prossegue com a incursão no terreno ensopado e irregular da Nave de Santo António, local que inúmeras vezes vislumbrei cá de cima da estrada, mas que nunca tinha trilhado lá por baixo. Um single track que serpenteia por entre a turfa alta e húmida, passando mesmo defronte à capela (!) local. A sensação é estarmos num prado imenso “engolido” pela alta serrania envolvente. Espectacular!


Chegados à estrada do lado oposto e depois de muitas fotos, começámos a subida para a torre. Nada de novo para além de uma subida longa, exigente e já conhecida, onde a presença de neve a partir do túnel faz distrair e esquecer o frio e o cansaço da subida!


Subindo, subindo, subindo… os 17 aventureiros lá chegaram a conta-gotas para nova reunião junto à rotunda da torre. Aqui, apesar do céu aberto com o sol bem presente, soprava uma brisa invernal que fazia a temperatura descer consideravelmente. Ainda assim a condição agreste do frio passava ao lado do Silvério, vaidoso do seu Jersey manga curta dos “Pirinés Epic Trail”!


Apesar do frio, repousámos e assentámos por aqui arraiais durante algum tempo para um abastecimento mais fortificado! Alguns de nós não resistiram às belas sandes de queijo e presunto serrano… tal era a larica!!!


Cada minuto que por aqui nos mantínhamos, maior era o frio sentido (á excepção do Silvério!), pelo que apressámo-nos para uma última fotografia grupal junto ao cruzeiro da torre e siga serra abaixo!


Seguiu-se assim a longa descida para a Lagoa Comprida. A deslocação do vento baixava ainda mais a temperatura já baixa. Frio + frio, queima! Era essa a sensação que tinha ao descer estrada abaixo. Valeram algumas paragens aqui e acolá para atenuar o “cortar gélido” do vento.


À medida que vamos descendo, a neve vai ficando mais dispersa até desaparecer por completo! Os alvos mantos brancos sarapintados pelo espreitar das rochas faziam parte do passado. Tínhamos agora diante dos nossos olhos o agreste rochoso da serra e uma bacia hidrográfica digna desse nome na Lagoa Comprida, onde alguns de nós fizeram uma incursão pelo topo do paredão, a convite do Pedro Antunes. Valeu a pena esta perspectiva diferente!


Seguimos em descida gélida para passarmos ao lado da negra Lagoa do Covão Cimeiro, cortanto mais abaixo à direita para entramos num trilho que possui à esquerda um canal de água por vários Km’s e à direita uma vista estrondosa pelo vale onde se vislumbram a longa distância pequenas povoações, entre as quais o Sabugueiro, circundado pelas cores outonais. Muito Bonito! Este canal de água acompanhou-nos até um trilho cerrado, dificilmente ciclável onde a única hipótese foi mesmo pôr a bike às costas e aí vão eles. 50 metros de bike à mão percorridos à uns anos atrás na Grande Rota das Aldeias históricas (GR22), hoje voltei a percorrê-los de igual forma!


Após o “trilho pedestre” passámos a Barragem do Lagoacho e após uns tortuosos km’s de pedra roliça, entrámos no Vale do Rossim onde se encontra a Barragem com a mesma nomenclatura. Àgua e Rocha… um contraste bonito e diferente.


Daqui, seguiu-se a passagem pelas Penhas Douradas e Cruz das Jogadas. O percurso estava mesmo nos “finalmentes”, mas ainda haveria a “cereja no topo do bolo”, com a passagem pela Mata de Faias, um local, onde as cores outonais surgem de uma forma deslumbrante!


A mata cerrada, permite a entrada de pouca luz natural, as cores douradas confundem-se ainda com o verde bem presente. O ambiente é mágico e a vontade de registar em fotografia é muita! Um cenário realmente compensador de todo o esforço dispendido até este ponto. Passear aqui de bicicleta é, defacto magnífico!


Depois de uma pequena paragem para fotografias, seguimos para a adrenalínica, longa e desesperante (para mim!) descida que nos levaria de novo até São Gabriel. Uma descida que nunca mais acaba, repleta de piso pedregoso e irregular! Uma autêntica tortura! Já tive a oportunidade a fazer em sentido contrário… (em subida)… e é bem preferível! Não fui mesmo feito para descer isto (talvez a 29er ajudasse!)!!!


A aventura finalizava assim com a chegada aos nossos carros de apoio! Estavam finalizados cerca de 70km’s repletos de bons momentos e paisagens inolvidáveis! Faltava mesmo o lanche final em Vale de Amoreira, com os já tradicionais peixinhos fritos e as febras “a palito” do Café Ideal.


O petisco agradou a todos, a conversa animada e regada com o “morangueiro” local fez esquecer o passar das horas! O frio serrano e o gelo das águas do Zêzere (João Afonso e Marco Messias…homens de coragem) depressa desapareceram com o calor irradiado pela salamandra e pelo “bate palmas” oferecido à malta! Estávamos em puro convívio! Era noite cerrada, quando demos por terminado este magnífico encontro!


Com encontros destes… é fácil falar em “tradição”! Será certo que para o ano, pela mesma altura lá estejamos todos, com a mesma (ou mais) saúde e com a mesma disposição deste ano.

Grande abraço a todos vós pela partilha destes momentos.
João Valente

PS: Fica aqui o albúm de Fotografias "Outono na Estrela 2011"
Outono na Estrela 2011

9 comentários:

Agnelo disse...

Como sempre, um relato "atrasado" mas ao melhor nível... não fiquei impressionado pelo discurso (já estou habituado à boa qualidade) mas as fotos da "caixa de fósforos" estão ao melhor nível. Tem que sair mais de casa.

Abraço
AQ

JValente disse...

Obrigado pelo teu comentário Agnelo!

Esta "caixinha de fósforos" tem lá que se lhe diga... mas o cenário também ajudava! lol

Abraço
João Valente

FMicaelo disse...

Pronto... já o disse e vou repetir... estou invejoso! Eu também queria ter ido!
Mais uma boa reportagem sobre um excelente dia de BTT, com um conjunto de "bons rapazes" a galgar as encostas gélidas da Serra.... eu disse gélidas? Silvério, tu mereces esse jersey e mais meia duzia! xiça... manga curta no meio da neve... é por essas e por outras que o Sporting este ano anda doido!... os sócios andam iguais! eheheheh

Fidalgo disse...

Eu também sou dos invejosos. Penso que temos que nos juntar e bora lá fazer inveja aos gaijos!!!! Eu não perco mais nenhum Outono na Estrela, já chegou este. Parabens pela reportagem. Um abraço.

ⓡⓞⓣⓘⓥ disse...

Bons registos ;)

Continuação de boas pedaladas!

Abraços
http://obloguedosmanteigas.com/

Tiaguss disse...

Faço minhas as palavras do Agnelo: "não fiquei impressionado pelo discurso (já estou habituado à boa qualidade)".
Excelente relato para uma excelente volta. Venham mais assim...
Abraços

daraopedal disse...

Parabéns pelo relato e pela aventura. Uma bela aventura sem dúvida. é possível arranjar o trilho GPS? Se sim, podem enviar-mo para dar.ao.pedal@sapo.pt.
Obrigado e boas pedaladas

JValente disse...

Fernando Micaelo, obrigado pelo teu comentário! Sabes bem que a malta sentiu a tua falta... mas desafios desses a que te propuseste também não se fazem todos os dias! Esperamos ver aqui em breve no nosso blog a partilha de algumas das emoções e sensações sentidas ao longos desses 42,195Km's (mesmo que sejam apenas um grande dose de empeno!!!) Ehehehe... Grande Abraço para ti.

Abílio Fidalgo, obrigado pelo teu comentário! Como foi possível resistires à tremenda tentação destas iguarias? Ainda me pergunto como terás andado durante o Domingo, sabendo que estavas a perder um dia em grande! Enfim! Fizeste muita falta! Aquele dom da animação e boa disposição está em grande parte associado a ti... A malta sentiu a tua falta! O "stôr" registou a falta a vermelho na caderneta! Ai, ai!!! Grande Abraço Fidalgo.

"Rotiv", obrigado pelo teu comentário! Dei uma vista de olhos no vosso blog e está muito fixe! Um belo cantinho da net a enaltecer esta magnífica zona do nosso país. Muito Bom. Abraço e boa continuação...

Tiago Lajes, obrigado pelo teu comentário! Tal como já tive oportunidade de "escrever", espero que num futuro próximo possamos nos aventurar em mais algumas incursões de BTT por essa zona... ou mesmo pela nossa! O que interessa é mesmo conviver e desfrutar da natureza! Abraço.

"Dar ao Pedal", obrigado pelo teu comentário! Tal como pediste, já enviei por mail o referido track. Agora é só pegar na ginga e desfrutar ao melhor nível as paisagens que a Serra da Estrela sempre tem para nos oferecer. Abraço.

carneiro disse...

Tomei a liberdade de linkar na minha tasca este verdadeiro hino à bicicleta e à natureza.

Cumprimentos