Bicicletas e Desenvolvimento Rural
Uma parceria sustentável
Por: Paulo Alves
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Fazendo uma retrospectiva, acho que sempre houve bicicletas na minha vida. Ainda me lembro de tentar pedalar sem as "rodinhas" laterais ou daquela árvore que se atravessou na minha frente (ainda hoje, tenho quase a certeza que ela se moveu sorrateiramente). Os meus pais são oriundos de aldeias do "Portugal Profundo", algures na Serra do Moradal. Certo dia, um amigo dos meus pais disse-me "nunca esqueças as tuas origens". Por vezes, as suas palavras ainda fazem eco na minha mente. E, se é verdade que - neste percurso que é a vida - mesmo que tenhamos tentado (ou por vergonha ou simplesmente por ser do contra) renegar essas mesmas origens, acabamos sempre por nos orgulhar das mesmas, fruto de um amadurecimento pessoal e da valorização do nosso património, da nossa cultura, do nosso povo. Devemos orgulhar-nos das vivências, dos pequenos nadas que - no fundo - são os que permanecem na nossa memória e são também aos quais recorremos mais do que imaginamos. Portugal é essencialmente rural. Mesmo em cidades de dimensões médias - como é o caso de Castelo Branco - ainda conseguimos sentir um viver descontraído, como que a apreciar o tempo mesmo que - por vezes - pareça que andemos todos ao ritmo do ponteiro dos segundos. Mas, mesmo vivendo nestas cidades, sentimos o desejo de nos evadir da rotina, de sentir o vento na cara, de cheirar as diferentes essências que só a Natureza consegue produzir e isso, são experiências únicas e individuais. Há alguns anos atrás - mais concretamente 1999 - voltei a andar de bicicleta. Curiosamente, vivia então numa aldeia perto de Castelo Branco. Na altura, serviu essencialmente para descontrair ao fim do dia de trabalho e explorar os inúmeros caminhos rurais que temos o privilégio de ainda podermos percorrer. Este "retomar" da bicicleta foi o início de muitas voltas. Foi também o reencontrar de locais, ou melhor, a descoberta de locais que - sem este meio de locomoção - muito dificilmente teriam sido registados na minha memória para revisitá-los sempre que quiser. Foi ainda a causa de grandes amizades criadas aos longo de cada pedalada. Muito raramente pedalo só. Tenho o privilégio de acompanhar algumas das pessoas mais genuínas que conheci ao longo da vida. Partilhamos emoções, partilhamos vivências, partilhamos pequenos nadas. Ali, somos apenas parte de um todo. Esse todo fervilha constantemente no sentido de manter a amizade pura. Acredito que contagiámos ao longo destas pedaladas, inúmeros habitantes rurais, no sentido de trocar palavras, trocar apertos de mão e até abraços como se de familiares se tratassem, ou amigos de longa data. São estes momentos que nos tocam e que ficam para sempre. De forma a que parte deste espírito permaneça, tentamos sempre captar alguns momentos com as nossas máquinas fotográficas com a finalidade de publicar nos nossos blogues. Talvez este seja um excelente meio de promoção do Portugal Rural, em que nos inserimos. Talvez seja a vontade de partilhar algo que nos tocou de alguma forma.
Paulo Alves
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