sábado, 30 de abril de 2011

Fátima 2011

Boas a todos!


"O Coração tem razões que a Razão desconhece", é uma conhecida frase de Pascal, que retrata um dos mais puros e primitivos sentimentos humanos... viver um determinado momento, sob a égide de um ímpeto, devoção ou paixão dificil de explicar á luz do raciocinio e da razão. Hoje terá sido um desses dias!...

Todos os anos aqui digo isto e este não será excepção - não tenho promessa, mas quando chega esta altura parece que faz-se um clic cá dentro e o corpo impulsiona-se para a estrada para percorrer os km que nos separam de Fátima. Busca-se a protecção Reginae Rosareo Fatima, como que a preparar-nos para mais um ano!... O coração a mandar!

Este ano estive em dúvida quase até ao dia de abalar! Por tradição a ida costuma ser no fim de semana antes do 13 de Maio, só que este ano coincide com uma festa familiar tradicional a qual cumpro zelosamente, pelo que era impossivel estar presente em dois sitios ao mesmo tempo. Nada feito... era este ano que falhava a ida!...

Contudo havia a possibilidade de ir com alguma malta do Modelo que se estava a organizar para o dia 30. Estando eu a trabalhar assim conseguisse uma troca para ficar livre... e quando estava quase a desistir, consegui! Iuupiii! A tradição ainda iria ser o que era! Fátima, ai vou eu!

Contudo a meteorologia andou tempestuosa... Raios parta... queres ver que este ano ainda fico que nem um pito como o ano passado? Não seria isso que me impediria de lá chegar! Ás 5:20 da matina chovia copiosamente.... toca de esfregar o corpinho com gel de banho! Com a chuva que caia chegavamos lá bem ensaboados e lavadinhos... olha que poupança de água a tomar banho!...

Vestido a preceito, com 3 sandochas nos bolsos e o impermeável vestido, nem que chovesse canivetes, eu iria deixar de lá chegar! Ou vai ou ... racha! Á saida da garagem, o chão molhado começou logo a molhar por baixo... mas por cima ainda nada...somente nuvens pesadas, quase, quase a chover!... Do mal o menos! Na Praça Rainha D. Amélia, local de reunião da malta, o sentimento era comum... Todos - Álvaro, Fernando, eu (FMike), Joaquim Cabarrão, Jorge Palma, Leandro e Marco, sabiamos que podiamos apanhar uma valente constipação, mas... haviamos de lá chegar!

Sem baixas de última hora, todo o mundo pronto e a horas no local combinado, começamos logo por mudar uma camara de ar do Joaquim, que iniciou assim bem o dia... com um furo... nada que não se resolvesse! Mal sabiamos o que nos esperava por ai diante! Na descida para Vila Velha de Rodão, as valetas começaram a fazer-nos sentir pequeninos... com algum granizo acumulado, começamos a temer pelo pior... uma trovoada nao seria lá grande coisa para nos acontecer! Mas estavamos com S. Pedro! Na travessia da ponte para o Alentejo, as nuvens começaram a abrir embora algum nevoeiro ainda teimasse nos pontos mais altos!

Em Nisa o ambiente da natureza era calmo, assim como a população... todos sentadinhos, meios sonolentos, curiosos com nossa presença... Tipicos alentejanos que terão pensado "Gandas malucos, com um tempo destes... de bicicleta!" Embora atrasados a malta aproveitou para cafeinizar a alma e repor energias com calam, pois o dia estava por nossa conta e 1/3 da distancia já tinha sido ultrapassado.

Entravamos agora numa zona propicia ao rolar, algo que aproveitamos muito bem, com a malta toda em "filinha pirilau", alternando frequentemente o "comando das tropas", num ritmo vivo e ao mesmo tempo agradável, até porque o tempo aguentava-se! Ainda passamos pela "Casa Branca" para ver se o Obama é que estava a comandar o tempo com o US Army, mas...

...mas nada de Obama! Aqui as cegonhas eram rainhas e senhoras, ao ocuparem todos os postes da estrada! Muito bonito de se ver... poluição, aqui, não atormenta! Depois de Alvega, viramos para as Mouriscas, com o intuito de irmos a Alferrarede, onde o Joaquim, incansável no trabalho para tornar esta aventura memorável, tinha-nos preparado uma surpresa!

Mas a surpresa iria ser dele!... Ainda antes de lá chegarmos, uns cacos de vidro de um acidente fizeram nova mossa no cronómetro! Mais um furo para a conta pessoal do Joaquim!

Resolvido o problema, e mesmo com novas ameças de chuva a malta não se encolheu, pois chegamos a Alferrarede rapidinho, até porque cheirava a... picanha assada! Não querem lá ver que há reforço energético???

O Sr. Martins, companheiro de guerra do Ultramar do Joaquim e agora companheiro de outras "guerras" - gastronómicas, entenda-se, tem ali naquela pacata terra, um sofisticado entreposto de carnes, que forneçe meio país, Castelo Branco incluido! Conversa puxa conversa, e não é que tivemos ali assim um patrocinio alimentar de um nivel superior?! Anda que não apanhas abastecimentos destes nas provas de BTT!!!

É bem verdade! A mesa adivinhava-se farta! E a grelha também! Vinho branco e tinto, sumos, água, queijo, chouriço, pão, tigeladas e não sei mais o quê, engradavam as mesas num dos telheiros do entreposto!

Mas a rainha e senhora do petisco, foi mesmo a picanha que saltou da grelha! Que riqueza de carne! Deliciosa, daquelas que faz cócegas no palato, era vê-la escorregar pela boca abaixo! Só me lembro de uma carne de vaca assim macia e deliciosa, lá em cima em Montalegre, quando fizemos o Geo-Raid! Não me canso de dizer... que delícia!

Mas o tempo urgia! Havia ainda quase metade dos quilómteros para fazermos até ao Santuário, e ali prós lados do Entroncamento a coisa estava negra, pois segundo as minhas fontes familiares, por ali radicadas, chovia por lá como deve de ser... mau, mau que ainda temos uma indigestão, com tamanha molha!

Mas o S. Pedro estava por nossa conta! Sempre com a chuva á nossa frente, lá iamos molhando os calções com os salpicos da estrada, mas nada de chuva no lombo! >>> O S. Pedro é fixe!

A subida de Abrantes faz sempre arfar um cadito, mas nada que amedontrasse a malta, agora repleta de "combustivel picanhês" e com "óleo de vinhasca" nas articulações! Ah catano, venham de lá as subidas! Nem mesmo o tanque de guerra fez medo à minha Lookinha!

Seguia-se uma fase de sobe e desce moderado, que sempre cansa, passando por Montalvo, Tancos e Constância, onde a antiga ponte fez as delicias da malta! Que bonita paisagem!

E o tempo aguentava-se, embora com a estrada pejada de água por todo o lado! Tinhamos de por uma velinha ao S. Pedro!

A entrada no Entroncamento ditou nova paragem por furo, calhando agora a sorte ao Álvaro. Nada que esmorecesse a malta. Enquanto ele ia mudando a roda, a rapaziada entreteve-se com umas fotos no antigo Jeep Willis que "apodrece" á porta dos Bombeiros da cidade. Que pena!

Ele bem queria ir de rabo tremido, mas teve de se contentar com a bicicleta... este... já não anda!

Entravamos agora na etapa final, mas sem dúvida a mais dura, pois a Serra de Aires e Candeeiros, perfilava-se á nossa frente como que uma guardiã do Santuário - "Para lá chegarem têm de passar por mim"!

Depois da Chancelaria, começa uma bonita, mas progressiva subida que vence dos 50 para os 350 m de altitude em pouco mais de 6 km, causando algum cansaço nesta recta final. Mas a picanha tem lá porras!

Serra acima, cada uma o seu passo certinho e praticamente sempre juntos, foi bonito de se ver aqueles "motores" ligados a trabalhar o pedal a "combustivel picanhês"! Qual Cancellara! Aqui "os motores" gastam carne de vaca! Homem que é homem não bebe o leite... come a vaca! Eheheheh...

A paisagem era soberba, sobre o vale do Tejo lá mais ao fundo. Teria sido esta paisagem que os dinossauros viram na sua vida nestas paragens. Dizem que os houve por ali, a passear nestas paragens... As pegadas estavam por lá, mas dinossauros... não vimos nenhum!

Estavamos na etapa final, a entrar em Fátima, um bocadinho atrasados é certo, mas felizes da vida.

Mais uma vez estava cumprida a nossa missão - chegarmos lá todos bem, sem problemas de maior e com boa diversão e companheirismo á mistura - como a malta gosta e aprecia!

Depois de um caricato mas bastante apreciado banho nos balneários dos peregrinos, seguiu-se o esperado almoço no restaurante Panorama, mesmo ali ás portas do Santuário, onde comemos e bebemos principescamente e a bom preço!

Em boa galhofa, como é costume, lá fomos renovando ideias de novas "maluqueiras" com as nossas amadas bikes, tendo sempre em mente uma mesa farta no final... porque o segredo "shiuuu... que agora ninguém nos ouve - o segredo está na picanha"! ;-)

Houve ainda tempo para o cumprir das "obrigações religiosas", com um rol de velinhas que as Marias nos tinham encomendado para por a arder sem falta! As fotos estão aí para provar que não nos esquecemos!

Agradecida a protecção divina, era tempo de nos fazermos á estrada e desejarmos - " Até pró ano!" Nós, quem sabe se não voltamos cá para Setembo, assim haja quorum para nos acompanhar no projecto "Caminho de Fátima" em BTT, que começa em Lisboa... mais uma maluqueira!...

Fiquem bem! Ao fundo do post estão todas a fotos da viagem, hoje com uma qualidade mais baixa, pois foi o telemovel que esteve de serviço - a digital podia-se constipar e ficou em casa! Um grande abraço e um grande obrigado aos companheiros de viagem, em especial ao Joaquim Cabarrão, incansável para que tudo corresse bem, aos nossos motoristas de serviço Monteiro e Nelson, ao Sr. Martins e claro a quem nos apoiou, desde familia a amigos!

FMike :-)





2 comentários:

JValente disse...

A espiritualidade, fé e abnegação perante o divino é algo que cada um guarda para si próprio!

Aprecio a forma como associam essa vertente individual aliada ao espírito de grupo que uma iniciativa dessas tem de ter!

Há tradições que tendem a ficar e a enrraizar... esta é certamente uma delas! Ano após ano... assisto a esta vossa obstinação em percorrer o Caminho Asfáltico até Fátima! Que assim seja por muitos e bons anos... é certamente éptimo sinal!

Uma palavra sincera de felicitação a todos pelo feito de mais um ano!

Abraço
João Valente

Joaquim disse...

Foi, de facto, um passeio, muito agradável, pelo espírito de equipa e camaradagem, entre todos.
Quero felicitar o autor, pela bela descrição dos pormenores muito elucidativos desta "peregriniciclista".
Só uma pequena nota:o motorista não é o Nelson, mas sim o César, que no próximo ano irá comer picanha a dobrar...hé..hé
Um abraço
Joaquim