terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um Tributo aos 40 anos de idade!

Boas a todos!
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O povo na sua infinita sabedoria pondera e vaticina em sábias frases que “quarenta anos para a juventude significam velhice e que cinquenta anos para a velhice significam juventude”… Outras dizem que “a velhice ataca quando passamos dos intas (trintas) para os entas (quarenta, cinquenta,…)”. Será esta a tal idade em que começamos a ser condores? - com dor aqui, com dor ali

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Ora isto a ser verdade na sua essência transformaria os quarenta anos numa fronteira sem retorno em que deixaríamos de ser bons rapazes, plenos de sangue na guerla para passarmos a ser velhotes, encolhidos, cucos e sabidos. Será mesmo assim? Esta é a questão que se pode colocar a quem desdobra essa fronteira etária - o meu caso…
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A HISTÓRIA DO TROIA-SAGRES…
Em 1990 um homem de seu nome Antonio Malvar decidiu provar a si mesmo e aos seus, que fazer 40 anos de idade não seria sinónimo de velhice ou de mudança de atitude perante a vida.
Para tal decidiu-se a fazer cumprir uma determinada exigência física, que estivesse dificilmente ao seu alcance, como o seria ir de Troia até a Sagres, local onde costuma passar as festas natalícias, recorrendo a uma bike e fazendo o trajecto – mais de 200 km, num único dia. Loucura para quem tem 40 anos? Talvez não…

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Assim, ano após ano, este intrépido adulto, maior de 40 anos, primeiro sozinho e pouco a pouco, acompanhado por centenas de ciclistas, percorreu este caminho de tributo, provando a si mesmo e aos que o rodeiam e conhecem que a idade é só mesmo um estado de espírito! Uma posição que comungo e assumo desde há muito tempo!

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Este ano cumpriu-se o XX Troia-Sagres. Aquilo que era uma prova solitária de negação do estatuto etário, tornou-se ao longo destes 20 anos, num conjunto de tributos marcantes, míticos, necessários a meu ver - homenagem aos 40 anos de idade, ao amor pelas bicicletas, aos que não se sentem velhos, aos que connosco partilham esta paixão das duas rodas, no fundo uma manif pacífica e não organizada, que mais não faz que juntar centenas de malucos amantes das máquinas das duas rodas a pedal!
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A MINHA HISTÓRIA…
No ano em que se cumpriu o XX Troia-Sagres, também eu cumpri o meu quadragésimo aniversário de idade. Tal como toda a gente, também eu senti as dúvidas normais de quem atinge esta idade. Serei o mesmo daqui para a frente? Será que o povo tem razão? Mas eu sinto-me bem, normal, igual ao que sempre fui…

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Desde há muito que assumi que a idade é mesmo um estado de espírito. Na minha experiencia profissional os idosos com espírito jovem têm sempre mais possibilidades de sobreviver a uma doença grave que um jovem cansado da vida. Temos que manter o nosso espírito jovem, a nossa paixão de viver, a vontade de sonhar, para que a idade não nos pese, limite ou definhe. Um autor pouco conhecido – Barrymore, tem uma frase que resume tudo isto: “O homem começa a envelhecer quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos!”

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Ora no ano em que fiz quarenta anos assumi para mim mesmo uma série de desafios – alguns familiares, outros materiais, profissionais e alguns fisicos para provar a mim mesmo que a idade não passa de isso mesmo - uma data num calendário e nada mais! Entre os vários sonhos que fui cumprindo e que conto ainda cumprir antes de atingir os 41 anos de idade, um deles era fazer o Troia-Sagres, tal qual o A.Malvar. Pegar numa bicicleta e fazer algo que não sabia se estava ao meu alcance. Nunca na minha vida tinha feito 200 km num só dia. Será que era capaz???? Era a dúvida que se me colocava.
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O MEU TRÓIA-SAGRES…
As últimas semanas foram infernais em termos de trabalho, ao ponto quase de esquecer as bikes e os amigos comuns, limitando um pouco o eventual treino que era necessário para tal evento. Mesmo assim assumi o desafio, aproveitando as poucas tréguas laborais para alguns treinos de longa distância, a maioria solitários. Independentemente do fraco treino, sentia-me francamente motivado. Eu tinha de ser capaz! Nem que chovessem canivetes, mas naquele dia havia de chegar a Sagres! E o grande dia chegou.

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De vésperas hospedei-me no espectacular Aqualuz Tróia Mar, um dos renovados hotéis da península de Tróia, acompanhado da minha esposa e do meu pirralho, a minha equipa de apoio. Por lá já estavam o Álvaro e Isabel, o J. Cabarrão e a sua Guida, chegando pouco depois o AC igualmente com a sua esposa e filha, ficando então a equipa albicastrense completa para o evento.

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Depois de um lauto jantar na Comporta, em que o convívio marcou forte presença, a noite continuou com um chazinho de grupo, no quarto do Álvaro, antes de irmos descansar e preparar as sapatilhas para o dia seguinte.

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Pelas 7:15 h já nós bulíamos no restaurante do hotel, vestidos a preceito, deliciando-nos com um farto pequeno-almoço, onde nem o champanhe faltava, embora tenhamos declinado a oferta, pois o vento lá fora fazia-se sentir e meio grogues podíamos fazer ainda mas “esses” na estrada.
Preparadas as máquinas a pedal surgiu o primeiro contratempo – uma ruptura do elo de corrente da bike do Cabarrão quase deitava por terra o seu inicio da aventura. Que falta fez outra vez o Dr. Elolink! Lá se arranjou uma alternativa, embora precária pois era um elo de 9 v e não de 10 v. Podia ser que aguentasse!

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Acabamos por sair de Tróia quase às 9 h. Claro… atrasadíssimos! Nos primeiros quilómetros praticamente não vimos ninguém, só mesmo depois da Comporta e mesmo ai, poucos. Aliás, este meu primeiro Tróia-Sagres pautou-se pela solidão. Sabia que tínhamos andamentos diferentes e que mais tarde ou mais cedo poderíamo-nos separar. O que não contava era que seria tão cedo. Aos 50 km uma cascata de acontecimentos ditou a nossa separação, que se manteve quase até ao fim. O elo que tínhamos colocado na corrente do Cabarrão, acabou por ceder, numa altura em que tínhamos incrementado o ritmo de progressão, ditando logo ali a sua desistência, pois não tínhamos mais nenhum disponível. Nessa altura o AC não se apercebeu e continuou, perdendo-o de vista, ao mesmo tempo que me apercebi que o Álvaro também já não estava connosco. Bonito. Estava completamente sozinho, sem rodinha de apoio e sem GPS. Bem… tinha uma tarefa a cumprir e nada me iria demover. Vamos em frente. Sigo as placas e os muitos ciclistas que iam aparecendo e logo se vê se dou com Sagres!

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E foi neste espírito que me deitei aos restantes 150 km que faltavam, mantendo o meu ritmo certinho, sem dúvida a arma ideal para se conseguir chegar ao fim. Pouco a pouco os km foram se vencendo, cruzando-me com muitas centenas de ciclistas ao longo do percurso, alguns colunáveis – João Garcia, o alpinista era um deles. Muitos eram os ciclistas presentes, assim como a diversidade de bikes, algumas simplesmente espectaculares – Asfálticas, BTT roda fina ou pneu cardado, triciclos, bikes duplas, Single Speeds, Free Wheels, de tudo valia para se tentar chegar a Sagres. Terão chegado todos? Não sei, mas sei que o tal espírito de vencer a adversidade estava ali presente em todos os que se fizeram á estrada, para provarem a si mesmos a sua capacidade física e anímica.

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Quanto a mim a única adversidade que enfrentei foi mesmo o vento teimoso que insistiu em acompanhar-nos de frente, desajudando, e sobretudo a solidão, pois nunca consegui arranjar um grupo que rolasse á minha velocidade. Acabei por fazer 3 paragens no percurso, duas para abastecimento de sólidos e líquidos – cruzamento de Porto Covo e em BemParece e claro para uma dose cafeínica no Almograve que me soube a pouco. O período mais crítico foi sem dúvida entre o km 125 e o km 175, numa altura em que se vem a rolar a boa velocidade quase sempre a plano e nestes 50 km a orografia muda radicalmente surgindo subidas, algumas intermitentes, tipo quebra-pernas, outras exigentes como a de Odeceixe, que pode fazer alguma mossa, numa altura em que as pernas começam a acusar o esforço.

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A partir do km 180, as placas a dizer Sagres resultam como um estímulo melhor que qualquer gel ou barrita, tendo mesmo percorrido os últimos km num ritmo verdadeiramente louco, pois já cheirava a Sagres! Acabei com 203 km, 6 h. e 37 min. e 1450 m de acumulado, a um bom ritmo para mim de 30,64 km/h.

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Mas o mais importante foi mesmo chegar ao fim, cansado é certo, mas com aquela sensação excelente de “dever” cumprido, que tinha conseguido cumprir mais um desafio para provar a mim mesmo que os 40 anos… não passam disso mesmo… uma data no calendário! A minha verdadeira idade vai continuar dentro da minha cabeça, jovem até que possa e me deixem!

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O VERDADEIRO TRIBUTO…
Não podia acabar assim. Tenho que deixar aqui um verdadeiro agradecimento e tributo não só aos que pedalaram mas também aos que nos acompanharam. Podemos pensar que não, mas toda esta massa humana que acompanha, apoia, dá de beber e comer, que ajuda, incentiva – as nossas mulheres, filhos e/ou amigos também sofrem! Era vê-los ao longo da estrada, fotografando, apoiando, batendo palmas, dentro dos carros de telelé na mão, às vezes com ar preocupado, mas no fim com um sorriso, de certeza, do tamanho ao dos que conseguiram chegar a pedalar. Para eles todos, particularmente para os meus – Muito Obrigado!
Aos meus companheiros pró ano há mais! Obrigado também pela companhia e apoio, quer nos treinos, quer na estrada!
Fica aqui tambem um agradecimento especial á D. Guida, malta do forum e ao AC que me enviaram algumas fotos, algumas das quais já com tuning... que falta me fizeram os meus parafusinhos vermelhos!

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FMike:-)

8 comentários:

João Afonso disse...

Sim Senhor que Post fantástico
Parabéns pelos anos e parabéns pela proeza.
Deve ter sido uma aventura fenomenal
1 abraÇo.

JValente disse...

Fantástico Post!

Sem dúvida, uma aventura memorável a comemorar uma data que não se esquece! 20 Edições do Tróia-Sagres! Uma boa referência para continuares a participar nas próximas edições, mantendo essa juventude mental e física que aprecio em ti!

Parabéns sinceros pelo feito!
Keep on fire man!

Agnelo disse...

Caro amigo, é verdade que estás meio velho (estamos todos), ou então meio novo (isso sim) já que a vida, para os que sonham, é um conjunto de degraus que se vão subindo. Os que não sonham em vez de subir degraus, descem. O degrau que subiste não era nada fácil é certo, mas levou-te a um novo "patamar" de compreensão da prática do ciclismo. A minha 1ª Troia Sagres será em 2010, quando ficar "meio novo" e entrar nos "entas". Abraço e parabéns pelo texto, li do princípio ao fim sem parar.
AQ

Pinto Infante disse...

O que dizer dum Homem que dobra a idade desta aventura!?
Parabéns a dobrar são os meus votos. Ah, e bem vindo aos entas...
Parabéns
Pinto Infante

Fidalgo disse...

Já disseram tudo, só resta dar-te os parabens.Um abraço, vêmo-nos por aí.
Fidalgo.

CLI disse...

Parabéns Fernando!!! Nem toda a gente é capaz de fazer maluqueiras desse tipo.. e depois ser capaz de as escerever
Por outro lado, bem-vindo ao "selecto clube dos quarentões" e recorda: "uma pessoa é tão velha como se sentir: nada tem a ver com a sua idade cronológica".
Um abraço

FMicaelo disse...

Amigos - Obrigado pelos comentários. Essas pequenas mensagens de apoio e incentivo são extremamente motivadoras quer para continuar a escrever, quer para continuar a fazer "maluquices a pedal".

Espero que para o ano sejamos mais ainda a rolar em direção a Sagres! Venham comigo!

jmedeiros disse...

Grande aventura, os meu parabéns!
www.jmedeiros.blogs.sapo.pt