O momento pré-natalicio é assim mesmo... um diminuir progressivo do tamanho, quilometragem e exigência das aventuras, sejam elas em "sapatilhas" ou em bicicleta, para dar ao corpinho a oportunidade de descansar um pouco, relaxar e "reiniciar o sistema", promovendo a recuperação desejada (e necessária!), depois de mais um ano cheio de boas e preenchidas aventuras.
O bom senso assim o exige, sobretudo quando os anos se vão passando, logo nada de "maluqueiras" se queremos continuar por muitos anos, em forma (auto)suficiente para alinhar e desfrutar de mais este ou aquele desafio aos nossos limites. Contudo...
...Contudo diminuir, relaxar, descansar não é sinónimo de parado! Nem pouco mais ou menos! O bichinho dentro de nós nem sequer permitiria isso! A alma também tem de ser alimentada, nem que seja com meia dúzia de pedaladas em terreno "virgem"!
Depois de um excelente domingo nas Docas, com muita malta amiga a (re)surgir, para umas pedaladas mais ou menos descontraidas na região sempre exigente do Ponsul, logo ali surgiu em conversa a oportunidade de preencher em grande, mais um dia desta minha (preenchida) semana de férias!
E assim foi. Aproveitando a deixa do amigo AC, decidi nesta quarta-feira acompanhá-lo a ele e ao Sales em mais umas animadas pedaladas, desta vez a explorar novo território, ali para a zona de Porto de Mós, já a preparar novos trilhos para uma próxima ida a Fátima.
O dia começou bem cedo,com a viagem até á vila de Porto de Mós, uma bonita vila "trancada" entre serras de Aires, Sto António e Candeeiros, serranias quase despidas de vegetação, onde a pedra dominante - calcário, se consegue ver á distância. Bonito de se ver e duro de sentir, pensavamos já nós ao olhar para aquelas majestosas encostas que dentro em pouco iriamos subir... "até já me doem as perninhas!" diziamos nós á laia de macacada!
Rapidamente preparamos as bikes e fizemos-nos aos trilhos em direcção á Corredoura, uma subida a meia-encosta, que ditou logo nos quilómetros iniciais um bom aquecimento, até porque a névoa matinal ainda dominava e fazia-se sentir o frio.... mas por pouco tempo!
Seguiram-se alguns sobe e desce, sempre com o calcário e a lama barrenta a dominar os trilhos, passando por curiosas terras - Pé da Serra, Casal do Rocho, Pedreiras, Azoio, onde cruzamos a movimentada N.1, em oposição com estes lugares quase todos sem vivalma... e sem café!
Na Boieira começamos aquilo que se chama um verdadeiro atentado ao consumo de adrenalina, sempre ao longo de 6 ou 7 kms... Um verdadeiro caminho de ligação entre aldeias, exclusivamente pedestre, "encalacrado" entre escarpas calcárias, densamente povoadas de vegetação, "obrigando-nos" a ciclar num carrerinho de sonho...
Em constante aceleração, ora com zonas técnicas com alguma pedra, ora com charcos de água e lama, de fazerem "dançar" a menina, foram espectaculares aqueles quilómetros, onde a adrenalina esteve ao rubro, proporcionando momentos alucinantes, dificeis de aqui reproduzir. Espreitem o filme do amigo AC e constatem...
Foram quilómetros espectaculares até Chiqueda de Cima onde entramos pelas ruinas da antiga fábrica de rações da Nutrigado. Também aqui nada de café!... Querem ver que a malta aqui não cafeiniza a alma?
A seguir ao Carrascal cortamos novamente a N.1, onde o único café que conseguimos avistar estava com ares de fechado á muito tempo, impossibilitando-nos mais uma vez de fazermos o gosto de beber um café quentinho e claro comermos qualquer coisa que o corpinho já pedia. Aproveitamos então um recanto de Termo do Évora para comermos ao ar livre, eu a minha sandocha XL e a restante rapaziada as tradicionais barras energéticas.
Daqui até á pedreira da Portela do Pereiro era a subir, portanto cada um ao seu passo certinho fomos vencendo a altimetria, sendo todos nós recompensados lá em cima com a soberba vista, a Oeste com todo o vale até quase ao mar e a Este sobre o vale de Porto de Mós entalado entre as Serras de Aires e Candeeiros, pejadas de carreirinhos, muros de pedras e inumeros moinhos, quase todos em ruinas.... muito bonito!
Aqui é rainha e senhora a pedra calcária. Domina a paisagem em toda a sua extensão, predominando nos poucos trilhos que percorrem esta serra dos Candeeiros, quase desnuda, com meia duzias de solitários pinheiros aqui e ali, e claro algumas antenas e eólicas a dominar os horizontes. Bonito mas duro q.b.
Depois da subida, seguiu-se uma breve descida que nos levaria até ao insólito Arco da Memória, ali "plantado" no meio da serra, em pleno séc XVI, marcando a divisão dos coutos dos frades de Alcobaça. Bonito monumento assim ali perdido!
Ora é quase uma "verdade postulada" que a seguir a uma descida (pedregosa q.b.) há uma subida e também aqui se aplicou essa verdade, com uma "escalada" aos céus, pois ao fazê-la, tinhamos a nitida sensação que estavamos a subir em direcção ao azul do astro, pois sem qualquer vegetação, tornava-se a única paisagem dominante.
Aqui, tal como fomos logo avisados pelo AC, não é terreno para pneus "maricas", tal é a exigência que estes meninos suportam ao percorrer estes caminhos pejados de pedara calcária, afilada e traiçoeira quanto baste... um simples descuido e seria rasgão, uma queda ou mesmo uma avaria grave... Mas que era bonito e adrenalinico, ai isso era!...
A última ascensão do dia terminaria nas antenas da Protecção Civil, já com Porto de Mós á espreita lá embaixo...
Depois de um "sacudido" sobe e desce a meia encosta entravamos na aldeia da Bezerra, vizinha das antigas e desactivadas minas de carvão da Bezerra, onde igualmente não vimos vivalma, nem café... estavamos mesmo destinados a comer a bifana e a boa da mini só em Porto de Mós!
Entravamos agora na parte final do percurso e quem sabe na parte mais bonita de todo o trilho, pois entramos naquilo que era o desactivado traçado do antigo Caminho de Ferro Mineiro do Lena, outrora via de transporte em comboio, do carvão retirado das minas da Bezerra e Bajoeira e transportado para a central termo-eléctrica de Porto de Mós.
Sabiamente, a edilidade da vila, aproveitou este caminho desactivado e transformou-o num passeio vocacionado para o pedestre e bicicletas, ao longo de todo o vale do ribeiro da Calvaria, entre Aires e Candeeiros. Simplesmente espectacular!
Ao longo de vários quilómetros, em pendente descendente, fomo-nos aproximando da vila, percorrendo todo este trajecto do antigo comboio, incluindo zonas de descanso e túneis, sempre com pano de fundo todo o vale. Soberbo!
A chegada á vila de Porto de Mós fez-se perto das 14 h, onde o corpinho já pedia mines e bifanas, prontamente colmatadas na Tasca da Dª Maria, uma tasquinha á velha portuguesa, onde se come principescamente e que já conhecia do dia em que fui buscar a minha Look á Batalha. Pelos vistos continua igual, tal era o numero de comensais sentados nas mesas.
Assim foi mais uma bela aventura, desta vez sob a batuta do amigo AC, que prometeu novas incursões do mesmo género. Venham elas! Se o "patrão troikiniano" deixar, como de costume lá estarei, nestas ou noutras que se venham a organizar pelos amigos que nos vão desafiando para estas saudáveis loucuras!
Fiquem bem
FMike :-)
Todas as fotos:
4 comentários:
Foi de fato uma bela manhã de luta contra o calcário . . . e então aquela trialeira!!! Mas há mais!!! O ano tem 12 meses. . . e não só Dezembro!!!
Abraço
AC
só te faltou dizer que vens daí com pedra nos dentes da tua sandoxa XL...
soberbo sinal esse de trânsito proibido, excepto a bicicletas.
bela aventura, com a reportagem do costume.
abraço
Pinto Infante
A reportagem leva-me a crer que terá sido uma excelente incursão pedalística (BTT puro e duro! - principalmente para "Hardtail"). Aguçou-me o "apetite", confesso! Espero daqui a uns tempinhos estar ao nível deste tipo de prática + exigente. Post 5 estrelas, boas fotos.
Abraço.
Bem interessante esse reino! :)
Abraço
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