Pomares parecia que ainda dormia… nem uma alma bulia pelas ruas. A chuva caia de mansinho, gotejando dos beirados de telha vã do casario baixo da aldeia, dando um brilho natural perante os envergonhados e parcos raios de sol que conseguiam aqui e ali trespassar o cinzento e pesado manto de nuvens que rojavam os cumes da montanha.
O aroma a castanhas assadas dominava o nosso olfacto. Os olhos logo a seguir brilharam perante a visão de um tabuleiro farto de castanhas e de generosidade.
A garrafa empoeirada mas com um forte e bonito brilho rubi, fez-nos aguar as papilas… Era do ano passado, mas com um sabor milenar de quem sabe fazer jeropiga há muito tempo.
Num ambiente de são convívio, os minutos passavam, em conversas sobre tudo e sobre todos, entrecortadas com risos e galhofas, onde nem o cão comedor de castanhas foi alheio, enquanto as castanhas e a jeropiga iam acalmando e acalentando os interiores vazios de quem o exercício físico ainda não tinha sido recompensado com o almoço.
A hora de abalar rapidamente chegou. Ficaram, as promessas de voltarmos e o fio da amizade que se criou. Só por isto valeu a pena cá vir!...
Ah pois… isto era suposto ser um post sobre a “Infernal”, perdão, Invernal da Guarda!
Ora cá vai ele então.
Como o nome diz, foi mesmo um Inferno! O dia começou triste, cinzento, molhado, ventoso, cheio de alertas da Protecção Civil. Que raio de dia para ir pedalar nas faldas da Serra da Estrela. Não me apetecia nada!
No café esperavam o Abílio e o João Fidalgo, o Bruno e o Nuno Dias. E nem a magana da cafeína me despertava a vontade… (de pedalar!)
Já na Guarda e reunidos sobre um abrigo improvisado, a 30 minutos do inicio da prova, ainda discutíamos se iríamos pedalar ou se seguiamos directamente para a aldeia de Pomares, terra natal do Fidalgo, onde os seus pais esperavam por nós para um castanhada lá no seu estabelecimento comercial… esta última reunia o consenso geral, perante a queda inclemente da chuva fria, tocada a vento, que parecia não mais acabar…
De repente o sol apareceu, rasgando o manto de nuvens sobre nós, e uma alma nova nasceu em todos… Ora vamos lá pedalar que foi para isso que cá viemos!
Equipados a rigor lá nos dirigimos ao Parque da cidade onde seria dada a primeira partida, pois tencionávamos começar no km 0 embora já houvesse pessoal a dirigir-se para a câmara, local de inicio oficial.
As tréguas da chuva foram contudo muito breves. Ainda mal tínhamos começado a pedalar já ela caia novamente inclemente sobre todos os atrevidos que puseram o nariz de fora dos carros. Ora já estamos molhados nada como irmos! Mas não foi assim para todos! Dos mais de 400 inscritos, alguns ficaram logo ali, perante o frio e a chuva, e ao longo dos trilhos gelados e molhados, muitos foram os que desistiram ou mudaram de trajecto para a Meia Maratona, onde acabaram cerca de 310, contra uns singelos 38 que finalizaram a Maratona, alguns soube depois, já bem no fim da tarde, sabe-se lá em que condições… Infernal mesmo!
Logo á saída da Guarda, na subida que passava ao lado do Sanatório, fomos “brindados” furiosamente por rajadas de vento intensas, acompanhadas de uma chuva gelada, forte que rapidamente se transformou em neve… mas não na neve branca e fofinha que domina os nossos subconscientes de crianças! Aquilo era uma neve violenta, agressiva, acompanhada de vento gélido, cortante, em rajadas fortes que nos fazia quase tombar da bike, enregelando-nos rapidamente as extremidades, sendo frequentes as queixas entre a malta que já não sentiam as mãos nem os pés… Eu, aos 7 km já me sentia perfeitamente encharcado/gelado da cintura para baixo… nem as meias impermeáveis serviram para nada! Portanto o ponto de ordem era pedalar para não arrefecer, fazer somente pequenas paragens para algumas fotografias, apreciar a paisagem magnifica, chegar inteiro ao fim com lesões mínimas de hipotermia, sem quedas e dar graças para que todos os companheiros não tivessem azares!
Ora mas então e o porquê daquele paleio todo no inicio?
Bem, eu cheguei perto das 11:30 e pronto para tomar o merecido banho, reparei que o Fidalgo já não tinha a carrinha perto do meu carro… Mau! Terá havido azar? Nada disso! Tinham “encurtado” o passeio devido ao mau tempo e alguns problemas técnicos, pelo que foram ao banho mais cedo e foram-me esperar na meta para chapar uma foto, mas eu fintei-os pois passei “muito depressa” e já não me apanharam! Conversa puxa conversa e saltou logo uma ideia - Ora se o almoço era só às 14 horas e como já estava quase despachado, desafia-nos este bom amigo a irmos aquecer a alma com a boa da castanha de Pomares, bem hidratada com a Jeropiga “Fidalgo Made”, lá na sua aldeia natal. Ora porque não?
Fiquem bem!
FMike
4 comentários:
Mais um excelente texto com fotos a condizer. Tu ainda tiveste pachorra para tirar algumas, eu não consegui, tive receio de arruinar o aparelho e não o levei. FOi um evento muito exigente mas já estou a pensar no do ano que vem... Foi pena não teres feito a distância completa, tínhamos ido juntos, os trilhos eram magníficos, as melhores partes estavam nos 75 kms. Abraço
AQ
Sois atletas infernais! Eheheh!
Se lá estivesse... tinhas ido ao 75Km's... ah pois era! Molha por molha...
Ainda assim... deve ter valido bem o sacríficio monumental pela beleza do local!
Parabéns pelo 19º!
Eu se tivesse ido, aos 75 kms não teria ido ! mas que tirava mais de 200 fotos ai isso era certo !!!
1 abraÇo.
Boa cobertura do evento :)
Boas Pedaladas.
Pedro Pinto
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