quarta-feira, 17 de novembro de 2010

T & L em tom Outonal

Boas a todos!

Vivemos actualmente num tipo de sociedade cada vez mais nuclear, encerrada em si própria, a olhar para o seu umbigo, em que o valor máximo é uno e resumido ao homem/pessoa na sua individualidade, relegando para segundo plano os que com ele cruzam no seu quotidiano.

Assim, ter amizades duradouras, francas, sem interesses nem segundas intenções que não sejam única e exclusivamente, estar com o(s) meu(s) amigo(s) em bom convivio, é um PREVILÉGIO, cada vez mais "caro" e "raro" de alguns, cada vez menos, afortunados.

Considero-me um desses afortunados.

A amizade franca é isto mesmo - partilhar o pouco que temos, com aqueles com quem gostamos de estar, transformando momentos "banais", naqueles episódios memoráveis ou aventuras de convivência e partilha, dignas de mais tarde recordar, quem sabe com os pés ao borralho da lareira e um neto ao colo.

Sou um afortunado porque felizmente tenho não um nem dois, mas uma mão cheia de amigos, capazes destes feitos, destas partilhas, destas convivências - O Abilio todos os anos nos convida para uma travessia gastronomica rumo ás Termas, o Filipe e o Sales levam-nos ao expoente do convivio familiar, o João Afonso multiplica os singles em aniversários blogistas, o AC lança desafios para raids epicos e claro o Agnelo leva-nos a paragens cuja a objectiva fotografica, regista incansavelmente, o de melhor que a natureza tem e dá.

Este 1.º Passeio T&L foi bem um exemplo desses - previlégio ao convivio entre bons companheiros, á paisagem indiscritivel digna de um portfolio famoso, a bons momentos de BTT em aventura, sempre em tom outonal e claro com um cheirinho indelével a mini-GeoRaid. Muito bom!

O desafio tinha já alguns dias, com um bom grupo a chegar-se á frente para o aceitar, pleno das dificuldades que um passeio tem nesta zona, mas consciente que para poder apreciar, ás vezes é preciso "sofrer" um bocadito! Haja perninhas!

A meteorologia era o grande entrave e até á véspera a indecisão era muita. Mas arriscamos e ainda bem que o fizemos. Apanhar as paisagens da Serra tal como elas estão é mesmo uma questão de sorte num intervalo de tempo limitado.... mais alguns dias e já não apanhavamos nada isto!

O nosso grupo de 9 aventureiros - o A. Quelhas, Pedro Quelhas, Nuno, Fidalgo, Nuno Dias, João Afonso, Pedro, Álvaro e eu (FMike), encontrou á saida de casa uma manhã tipicamente outonal - algum frio, as ruas molhadas da chuva nocturna e uns resquicios de céu azul no céu da madrugada, o que nos deixava optimistas. Mas à chegada a Manteigas a coisa ficou húmida!

Se virassemos o olhar para o vale glaciar em direcção ao maçico central viamos que o céu estava agora carregado de cinzento e que a chuvinha molha-parvos começava a engrossar, ao ponto de ao chegarmos á ponte do viveiro das trutas, a coisa já ir um pouco diluviana, tanto no ribeiro, como em cima das nossas cabeças... mas a paisagem já encantava e subida que começava em direcção ao Poço do Inferno só veio a comprovar isso!

O Outono está ai em grande força! Á medida que nos aproximavamos da belissima cascata deste monumento natural, as cores quentes das folhas caducas, misturavam-se com os raios de sol que iam aparecendo, emprestando a todo cenário, uma paisagem digna de uma tela de um talentoso pintor... tudo á nossa volta cheirava, sentia-se, vivia-se na intensidade desta estação... indescritivel!
. Depois do Poço, continuamos serra acima, com a presença de vários arco-iris em todo o vale do Sameiro, enquanto que o trilho pejado de pedras escorregadias, cobertas pelo manto dourado das folhas caidas, começava a pregar as primeiras partidas ao pessoal do pedal, que aqui e ali ia mandando umas gargalhadas a tentar suplantar tal "parede técnica"... já sei porque é que puseram o nome de Manteigas á vila!... Aquilo parecia manteiga para lá passarmos!

Já na cumeada e com o Vale da Amoreira a nossos pés, começou a cheirar a petisco á malta que ia assobiando pro lado a vontade de desgustar algo mais sólido, pelo que a descida, já por si bem acentuada, acrescentou adrenalina o sangue e foi vê-los desmandados por ali abaixo até á aldeia! É daquelas descidas de deixar um sorriso de orelha-a-orelha!

Eu, fiel ás minhas sandochas XXL, aviei-me em casa com 3 belos exemplares para o passeio, mas a malta, já sentada na solarenga esplanada da casa de pasto Ideal, afiambrou-se ás sandochas de queijo da serra, que foi um espectáculo! Como se não bastasse, lá dentro a visão dos petiscos disponiveis começou mesmo a fazer perigar a continuidade do passeio, pois já havia convictos a querer ficar ali... os peixinhos fritos, a febra a palitar, maçãs de borla!.. Vamos lá embora que isto ainda não acabou!
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À saida do Vale da Amoreira, esperava-nos agora a subida mais longa do dia em direcção á Quinta do Fragusto, sempre em pendente ascendente ao longo de alguns quilómetros. Esta subida era já minha conhecida do Geo-Raid, mas contudo não foi menos bela... aliás, toda esta zona apresenta-se agora distinta, diferente, sob o dominio das cores outonais, parecendo que o trilho era outro, completamente diferente.
. A subida não é fácil, mas é perfeitamente realizável, e o crescendo de forma da malta que alinhou é um facto - cada um, no seu passinho certo, entre paragens para fotos, graçolas e até uma "mijinha de grupo", lá foram vencendo os 9 km que separam o Vale da Amoreira ao cruzamento da Quinta do Fragusto, sempre com vistas fantásticas sobre todo o vale, agora na sua vertente norte.

A subida não termina neste cruzamento, alongando-se por mais 5 km até começar a descer para o vale da Sra da Acedasse, passando por locais de rara beleza, com a natureza quase selvagem a rodear-nos, culminando na bonita zona do Gurgulhão, com trilhos de cortar a respiração, daqueles que só se veêm nas revistas de bikes.... lindo, lindo! Contudo o S. Pedro continuava a fazer-nos companhia e decidiu mudar o cenário, começando novamente a enfarruscar-nos o tempo!

No começo da descida que nos levaria á Sra da Acedasse o "caroço" da Santinha escondia-se á nossa frente, num manto de nuvens carregadas de chuva, a avisar-nos que iamos molhar o corpinho... nada que nos fizesse vacilar, até porque a aventura aproximava-se do fim e a malta ansiava já pelos prometidos petiscos.

Em boa velocidade pois a pendente era descendente, lá nos aproximamos do inóspito mas bonito santuário, onde viramos á esquerda em direcção ao Covão da Ponte, onde na derradeira subida tivemos um episódio cómico, com dois putos montados nas suas Órbitas FF (ferro forjado) fizeram ver aos maganos e se desembestaram-se pela subida acima fazendo algumas ultrapassagens ao pessoal que vinha mais recuado, sempre com uma ar de superioridade como que a mostrar como é que se anda de bike por aqueles lados! Ehehehehe!

No alto do Covão, com uma vista fantástica sobre Manteigas, o tempo agora era de relaxar e preparar-nos para a descida que nos levaria de volta á Vila, por um dos trilhos laterais do S.Lourenço, um trilho tanto de adrenalinico como de belo, pois previligia a passagem por zonas de árvores de folha caduca muito bonitas com o chão a ser atapetado por dezenas de folhas douradas... nem a chuva impediu que fizessemos aqui a derradeira foto de grupo!
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Com a chuva a cair cada vez mais forte e sempre em pendente descendente a velocidades quase proibitivas, daquelas de fazer bater rápido o coração, tive, já mesmo no final da descida o único precalço do dia, ao ficar preso pelo braço numa das "silvias" de uma parede, desiquilibrando-me, levando-me a dar uma verdadeira "palhaça" directa ao chão, "esfarrapando" o resto do meu impermeável... apesar de meio aparvalhado pela queda, levantei-me a rir perante tal "desgraça"... Estavamos no fim de 56 km e eu já me queria deitar ali para a a sesta da tarde! Vá lá que a coisa se resumiu a uma esfoladela no braço e uma nódoa negra no dorso! Um abre-olhos! Para a próxima ponho as mãos no travão!
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Em Manteigas a tarde caia triste perante tal chuvinha persistente, pelo que a malta lá se foi arranjando o melhor que pode para irmos direitinhos á casa de pasto Ideal, onde iriamos continuar o convivio ao calor da salamandra, nesta tipica tasquinha, repleta de um cheirinho de fazer crescer água na boca - queijo, chouricinha, febras a palitar e uns peixinhos de escabeche, soltaram nas papilas gustativas dos convivas um manancial de prazer gastronómico, acalmado pela cervejola e pela boa pinga tinta da casa... um lugar modesto mas que desde já recomendo para os apreciadores do petisco!
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Foi assim o 1.º Passeio T&L... o primeiro de muitos... que sejam tão bons ou melhores que este, em termos de trilhos, paisagens e sobretudo, bons momentos com os nossos amigos. Obg Nelo por este desafio. Conto estar nos próximos!
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FMike :-)

P.S. - Agradeço aqui publicamente as fotos do Nelo e do João Afonso, que enriqueceram e de que maneira este post. Obg amigos! As poucas e de fraca qualidade que registei, seguem em slide.


5 comentários:

Agnelo disse...

Boas Mike, parabéns por mais um excelente texto e pela sempre magnífica companhia nas aventuras. Para a próxima vê lá se levas a maquina fotográfica, o telemóvel não faz milagres, e a malta gosta das tuas fotos :-(.
Abraço
AQ

João Afonso disse...

Foi sem duvida 1 dia cheio de "Trilhos&Limitados". Esta é a época do ano em que eu mais gosto de pedalar por aquelas bandas.
Obrigado pela tua companhia.
As melhoras, e corta ventos há muitos!
1 abraÇo.

FMicaelo disse...

O seu, a seu dono! Tal como disse no texto as fotos que o ilustram são dos amigos João Afonso e do Nelo, dois excelentes fotógrafos que comigo partilharam os seus registos. As minhas fotos são as deprimentes que constam do slide final, tiradas por telemovel num dia de chuva... bela cagada!

Bluffer disse...

Eh pá! Um texto tão grande e eu li tudo seguido, parecia que estava a ler uma obra literária :D

Olhem, vocês ainda fazem aqueles passeiozinhos semanais? Quando tiverem algum membro novo no grupo, que não ande muito, digam-me alguma coisa que eu ando sempre sozinho :'(

FMicaelo disse...

Boas Bluffer

Desde já obg pelo teu comentário/elogio! Fazemos o que podemos e gostamos - pedalar e partilhar essas aventuras.
Quanto a pedaladas, nada há mais desmotivante que pedalar sozinho - Vem ter connosco! Serás benvindo! Deixa o teu mail que dou-te alguns sitios na cidade para encontrares malta para pedalar com diferentes andamentos. Abraço