Boas
Como já perceberam os atrasos vão ser uma constante daqui para a frente.... disse á quarta, acaba por ser á quinta.... Aqui ficam as minhas sinceras desculpas, mas o tempo não dá para mais! Mas tudo se há-de fazer! Sem stress!
No passado domingo deixamos a nossa zona de conforto e desafiados pelo amigo Nelo embrenhamo-nos nas rotas milenares dos Caminhos de Santiago, aqui relativamente bem perto de nós. Um desafio com algum grau de tecnicidade e dificuldade mas que levado com calma, ponderação e boa disposição sempre se consegue completar!
Para quem não está situado, esta aventura apelidada de Caminho dos Franceses encerrava uma volta circular com inicio e fim em Figueira de Castelo Rodrigo e o seu ponto mais distante em Barca D' Alva, embrenhando-se em bonitos caminhos daquela região, alguns dos quais comuns á Estrada Franca.
A Estrada Franca ou mais vulgarmente conhecido como Caminho Francês de Santiago, deriva junto á fronteira para Escarigo, uma das povoações na qual passamos e que tem por lá um edificio cheio de simbolismos de Santiago, nomeadamente as vieiras, que encimam a albergaria quinhentista que dava abrigo aos peregrinos que por aqui pernoitavam.
Daqui tinham duas opções de trajecto: iam por Vermiosa, Vilar Torpim e Cinco Vilas passando por Pinhel em direcção a norte ou seguiam um caminho mais longo por Almofala em direcção a Barca D'Alva, sempre em direcção à Galiza e Santiago de Compostela. Como seria de esperar os inúmeros sinais, vestigios e monumentos dedicados á causa de Santiago, inundam estes belissimos caminhos da fé! Sente-se no ar todo aquele halo a história, preserverança, sacrificio e dedicação, típica dos milhares de peregrinos que por ali singraram! Numa palavra - bonito!
A saida fez-se bem cedo (6 h da matina em C.Branco - "que barbaridad" diria o CLI) para podermos estar no Convento de Sta Maria Aguiar ás 8 h, a hora marcada de partida. Num dia um pouco farrusco, com alguns pingos de chuva á mistura, lá saimos para os trilho ás 08:15 h, uma vintena de companheiros ávidos de aventura e boas paisagens, pois as dicas que o Nelo tinha mandado bem prometiam.... e não falharam!
A fantástica vintena de companheiros, 21 para mais preciso - Abílio Fidalgo, Álvaro Martins, Agnelo Quelhas, António Cabaço, Daniel Valente, Dário Falcão, Fernando Micaelo, Filipe Salvado, João Afonso, João Valente, José Marques, Luís Moreira, Nuno Eusébio, Nuno Dias, Nuno Maia, Paulo Mendes, Paulo Neto, Pedro Quelhas, Rui Salgueiro, Sérgio Marujo e Silvério Correia fizeram a primeira parte até á fronteira essencialmente por alcatrão, por inexistencia de alternativas de terra, pois por ali abundam barrancos e vales escarpados, pejados de pedra, sem qualquer tipo de trilhozito ciclável!
Depois da Nave Redonda, em Almofala ingerimos a primeira cafezada paga pelo Dario que na véspera tinha completado mais uma "Primavera" (conta muitos amigo!) e seguimos para Escarigo, passando logo de seguida a ponte sobre a Ribeira de Tourões, onde entramos na "Terra de Nuestros Hermanos".
Seguiu-se La Bouza, a ponte sobre a Ribeira de Puerto Seguro, onde uma inclinação de 15% fez bem arfar a malta! Que subida boa para aquecer numa manhã ainda farrusca e fria!
Depois de Puerto Seguro chegamos então ás arribas do Rio Águeda, onde nos esperava a maior e mais adrenalinica descida do dia, toda ela em calçada romana, aprimorada pelo escorregadio da chuvita que de vez em quando pingolhava... Que espectáculo!
Cada um no seu jeito, mais ou menos rápido, todos chegamos bem lá abaixo, com muitas muitas fotos em todo o percurso, culminando com uma derradeira foto em cima da ponte com o pessoal todo junto.
A partir dali era subir, subir, subir! Houve quem teimosamente tentasse mas teve de ser mesmo em PTT - pedestre todo o terreno! Lá mesmo em cima ainda arranjei uma pena de uma ave de rapina que me fez relembrar a minha águia Vitória, "depenada" na sexta feira por uns "azeiteiros" e um par de tamancos armados em árbitros! Enfim...ficou a lembrança!
Seguiram-se uns valentes km em estradão, aqui e ali entrecortados com alguns caminhos mais estreitos e mesmo alguns bonitos singles, passando por terras curiosas como San Felices de los Gallegos, Ahigal de los Aceiteros (mais azeiteiros?... nao posso!) e Sobradillo, todas elas ricas em património paisagistico e monumental! Muito bonito!
A "senhora" que se seguiu foi Fregeneda onde desembocamos no Festival da Almendra, algo que nao estava no programa e que veio ainda enriquecer mais o passeio, embora chuva aqui tentasse estragar a festa... mas não conseguiu!
Uma belissima "cerveza con limon" (que saudades!) complementada com um "bocadillo com lomo" fez as delicias. Meus amigos, até podia chover cantaros, mas daquela esplanada ninguem se levantou sem encher bem o estômago! Que delícia de manjar!
A partir dali tinhamos duas opções: ou seguiamos o caminho alternativo mais longo descendo até ao Douro onde passariamos a fronteira ou então arriscavamos nas velhas e degradadas pontes férreas, encurtando o caminho mas colocando alguma perigosidade no trajecto.
O Nelo (e bem!) optou pela via mais segura, que no fundo também se revelou bem bonita pois foram bons km sempre a descer por entre as amendoeiras em flor, aproximando-nos do sobranceiro Douro que embelezava todo o vale... uma paisagem de encher o olho! Se quiserem ter outra perspectiva da famosa linha férrea Fregeneda-BarcaD'Alva, espreitem aqui e sigam o "seguinte":
rotadostuneis
Em Barca D'Alva cruzamos a fronteira na linha férrea e embrenhamo-nos na feira popular, passando pela bonita mas vandalizada estação de comboios, imortalizada por Eça de Queiroz em "A Cidade e as Serras", antes de ladearmos o rio Douro, prestes a iniciar a maior dificuldade do dia - a subidona de regresso!
Esperavam-nos cerca de 20 km sempre a subir até Figueira de Castelo Rodrigo, serpenteando por zonas de vinha, vales mais ou menos profundos, aqui e ali dominados pela vasta pedra granitica. Um subida respeitável com cheiro a outras aventuras emblemáticas.
Cada um ao seu ritmo lá fomos vencendo as pendentes, quando numa determina da altura, eu o JValente e o Rui Salgueiro demos conta que estavamos simplesmente perdidos, com um desvio assinalavel para a direita do trajecto original, quando faltavam 9 ou 10 km para o final. Sabiamos que tinhamos a pedalar á nossa frente o AC, o Paulo Neto, o Luis Moreira e o Silvério e que o restante pessoal estava mais atrás de nós.... tinhamos uma de duas opções - ou voltavamos atrás até á intersecção perdida e nunca saberiamos se a malta ja estava para a frente ou não... ou entao navegavamos á vista em direcção á vila, numa altura em que eu já ia sem água há alguns quilómetros e pejado de sede.
Acabamos por seguir á vista, chegando algum tempo depois do amigo AC e do Luis, pois escolhemos pelos vistos um caminho mais curto que o original, porque o meu conta km só tinha 84 km, diferentes dos quase 90 que alguns companheiros registaram. Um lapso, que possivelmente nao teria acontecido se nao me tivesse esquecido do GPS em casa. Um esquecimento a evitar. À babuja emborquei quase litro e meio de água assim que cheguei ao carro! Ninguém levou Sagrespam!
Pouco a pouco foi chegando a malta, pelos vistos com mais alguns enganos de percurso, mas sem problemas, pois toda a gente chegou inteira ao destino. Alguns continuaram até á casa do Fidalgo para mais alguma confraternização, mas nós comedidos no tempo pois tinhamos outra mala de viagem para fazer, seguimos para CBranco, com o "papinho" cheio de bons momentos!
Fica um agradecimento ao Nelo pela fantástica aventura! Haja outras similares!
FMike:-)