Boas a todos!
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Cada vez mais no seio dos BTTistas, verdadeiros apreciadores da Natureza, vão surgindo iniciativas particulares que visam quebrar um pouco a insipidez de alguns passeios organizados, promovendo interessantes e enriquecedoras alternativas ao dorsal xpto, ao abastecimento xyz e ao almoço de faca e garfo.
Raid,s, Ataques, Passeios, Fidalguias, são muitas a nomenclaturas utilizadas. A. Fidalgo, A. Cabaço, Agnelo Q., Filipe S., João Afonso ou Pinto Infante são nomes comuns e incontornáveis nesse tipo de challenge. Em todos eles, um sinónimo comum - carácter puramente lúdico, associado muitas vezes ao desejo de conhecer novas fronteiras, novas paisagens, novos trilhos e até novas amizades, quebrando a monotonia do tradicional passeio domingueiro, cheirando assim a aventura e desafio. E em relação a todos eles tenho o grato prazer de fazer parte dos seus círculos de amizade, com os respectivos desafios incluídos.
Este sábado foi mais um desses dias. Intitulado de “Ataque à Gardunha”, o autor do desafio – Agnelo Q., propôs-nos acompanhar-nos num passeio em montanha, que prometia excelentes paisagens, novos trilhos e alguma dureza. O que seria da vida sem um bocadinho dessa dureza, desse “sal” para temperar o dia-a-dia?
Há muito que este "Ataque" estava prometido, mas o Verão e alguma falta de tempo tinham adiado este desafio... até hoje! Desde logo sabiamos que nos esperavam trilhos difíceis, quer em exigência física, quer em exigência técnica, o que poderá ter condicionado a presença de mais alguns convivas habituais, mas deixo apenas uma dica... com um bocadinho de esforço e algum espírito de sacrifício todos conseguimos... e para poder ver paisagens deste gabarito... vale bem a pena o esforço... Simplesmente soberbas! Simplesmentes inesquecíveis! Simplesmente... ...vou voltar outra vez!
Apesar de ser sábado e de existirem outros eventos interessantes, mesmo assim juntamo-nos 9 aventureiros para encetar esse Ataque. Eu (FMike) Agnelo, Abílio, João Fidalgo, Nuno Maia (Alcains), Pedro Martinho, Sérgio Marujo e dois representantes egitanenses - Pedro (Irmão do Agnelo) e o Nuno, juntamo-nos em Alcongosta já bem perto das 9 h para darmos início a mais esta exemplar e única aventura em duas rodas, pelas belas paisagens da Gardunha.
A opção de começarmos em Alcongosta permitia-nos duas benesses - trepar às Antenas por uma vertente que nunca fiz, além de pouparmos cerca de 200 m de altimetria às pernas, pois em vez de começarmos nos 400 e picos metros começamos a pedalar nos 600 m, mais ou menos a metade daquilo que pretendiamos alcançar.
Bem próximo do caminho romano já meu conhecido do Geocaching e por onde iríamos voltar começamos então a pedalar, logo a subir. Sou sincero. Detesto começar a pedalar logo a subir... a fornalha vai fria, canso-me com facilidade, doem-me os joelhos, até parece que nem sei andar de bike, mas desta vez a coisa até foi porreira. Um bocado de alcatrão até à Casa da Floresta, local previligiado pela malta residente para os magustos, fomos pé ante pé ou melhor pedalada a pedalada, vencendo as curvas de nível, permitindo um bom aquecimento, do qual nem dava conta, tal era a qualidade das paisagens que nos iam enchendo a retina... ninguém refilava que iímos a subir... só se ouvia era a malta a gabar a paisagem... Que bonita é a nossa região!
Substituindo o alcatrão por trilhos rapidamente fomos vencendo as dificuldades, chegando então ao cimo da primeira contagem de montanha, o VG do Cavalinho, a mais de 1100 m de altitude, onde nem o muito vento frio, impediu a malta de apreciar com gosto a abrangencia da vista em redor de 360º. Simplesmente fantástica!
Aquela hora da matina, com o sol ainda baixo é possível obter-se uma visão completamente diferente de quando o sol está no zénite, com aqui e ali as montanhas ainda cobertas com alguma névoa matinal. A norte todo o maçico da Estrela brilha com a Cova da Beira a seus pés... Covilhã, Fundão, estão lá longe...pequeninas... A sul a A23 serpenteia entre montes e vales, tal qual uma pequena serpente azulada... a Marateca parece um remanso de água parada... CBranco mal se vê... Longe... Lindo! À nossa direita as Antenas da Gardunha ligeiramente superiores a nós desafiavam-nos... "Atrevam-se se são capazes!"
E foi mesmo para lá que nos dirigimos, não a direito pelo estradão bem identificado que rola pelo topo, mas sim por uma adrenalínica descida, mais à direita que nos levaria à "Serra" da Senhora da Penha. Algo perigosa e técnica obrigou a apear-nos primeiro por causa das regueiras das primeiras chuvas e depois por causa do muito mato que tomou conta do estradão, tornando-o numa selva... que pena!
Chegados aos 900 metros na zona do Carvalhal demos então início a nova subida, que desta vez nos levaria às Antenas pela tal vertente que nunca tinha feito. Com zonas bastante íngremes e piso por vezes demasiado técnico, obrigou ainda a duas desmontadelas, antes de retomarmos a marcha triunfante até ao topo da Gardunha, local já bem meu conhecido, mas do qual não me consigo cansar! Foi difícil chegar lá (13 km e picos com 800 de acumulado é obra) mas vale bem a pena! Por um lado a indiscritível paisagem. Por outro o prazer de levarmos de vencida tal cansativa tarefa. Muito bom!
Retemperadas as forças, era agora tempo de fazer a descida que nos levaria até Castelo Novo, passando então pelo monte de rochas chamada de "Castelo Velho" (nosso conhecido do Geocaching), rumo ao percurso do Souto dos Castanheiros, que termina na pricelitante calçada romana, que nos abanou bem os ossinhos até entrarmos na aldeia, local onde beberricamos água fresquinha na sua fonte e claro as primeiras sagrespam do dia, que a malta já se queixava das articulações.... eheheh!
Respostos os níveis de sais minerais no corpinho, entravamos agora na etapa mais calma do desafio, rolando por trilhos novos, ainda assim algo exigentes nalguns pontos, rumo a Vale de Prazeres, onde se seguiu novo reabastecimento, porque o dia aquela hora - 12 h já tinha mudado completamente a sua face: do vento frio da manha passava agora a sol quente e abafado, sem brisa!
Aguardava-nos agora a terceira e derradeira subida das encosta da Gardunha - a parede do Monte Leal. Verdadeiramente uma parede, pois vence 200 metros de altitude em menos de 2 km, por um trilho ziguezagueante entre pinheiros, pejado de caruma altamente escorregadia que se torna extremamente cansativa. Brutal!
Atingiamos assim ao alto da Cortiçada, bem próximo do lugar chamado de "Curva Grande", a curva da EN 18 no alto de Alpedrinha, que separa as duas vertentes da Gardunha. Chegados aí ainda pensamos que iria ser um simples passeio pelo topo da Gardunha, com ambas as vertentes a nossos pés mas foi um engano! Ainda havia que subir mais qualquer coisita, agora até bem perto do caroço da Coutada, local bem emoldurado por uma paisagem de carvalhos, simplesmente fantástica... ali de Verão deve ser um espectáculo pedalar!
Passamos então no alto dos túneis da Gardunha, ao lado da zona de acesso vedado, chegando então à fase final da aventura de hoje, a descida pela calçada romana que nos levaria ao início de Alcongosta, onde chegamos já algo atrasados em relação à hora prevista, não só fruto de alguns precalços mecânicos com a Giant do Nuno "Egitanense", mas também da pose lúdica e descontraída dos presentes em toda a aventura.
A tarde continuou para alguns com uma animada petiscada de pregos no pão numa tasquinha do Fundão, bem acompanhadas pelas médias fresquinhas que calaram a sede dos mais sequiosos. Em alegre confraternização prometeram-se mais convívios destes, quem sabe com maior presença da malta da Guarda... quem sabe!
Quantos aos albiscastrenses reitero o que escrevi ao início: alinhem nestas iniciativas... não se assustem com as altimetrias... fujam do ram-ram, e atrevam-se a viver verdadeiras aventuras! São estas pitadas de tempero que tornam a vida mais apetitosa! Basta provar!
Fiquem bem!
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FMike :-)